Um futuro caótico, um pesadelo ecológico.

Ontem tive um sonho muito estranho, na verdade um pesadelo, eu via de longe o planeta Terra e minha visão foi se aproximando até que me vi de pé numa linda floresta com grandíssimas árvores que nunca havia visto igual em minha vida, e um grande rio, ao andar um pouco mais vi o imenso braço de água que se encontrava com o mar e se perdia na sua imensidão, e no prazeroso e rústico silêncio eu podia ouvir uns frágeis ruídos: o som das águas do rio correndo e pássaros que voavam e cantavam com um enorme repertório de canções, mas a paz não durou muito, as árvores começaram uma bizarra metamorfose e logo pude definir no que estavam tornando: imensos prédios com chaminés que soltavam uma fumaça negra que se alastrava pelo ar matando todos os pássaros que alcançava, alguns caíam das árvores e outros do céu como numa chuva de pequenos cadáveres, a linda sinfonia da floresta foi aos poucos se transformando em barulho de buzinas e de pessoas gritando de forma desarmônica e estressante

Ao buscar o rio percebi que este estava secando, me apressei em direção ao braço de água que minguava e quando o alcancei já havia submergido e deixado somente uma vala seca, a sombra do que foi um abundante rio, dei alguns passos ágeis para trás ao perceber que o chão que eu pisava estava começando a ficar frágil e a sucumbir bem diante dos meus olhos, era uma erosão, a vala parecia engolir a terra que compunha a margem do rio agora seco, corri desesperadamente para longe, pois se permanecesse seria com certeza engolido anexo ao solo que rescindia.

Só parei de correr quando me vi de frente para o mar e ignorando tudo a volta, todo aquele caos que apagava a beleza ancestral natureza, admirava o que me parecia ser o único sobrevivente do “progresso” humano, estava enganado! Nem o potente e imenso mar conseguiu escapar da desordem que se instalava naquilo que fora um imenso bosque, no horizonte uma enorme mancha negra vinha ofuscando o azul do mar e se propagava de forma assustadoramente ágil e em menos de cinco segundos já estava próximo da areia que eu pisava, até aí nem havia reparado o tanto de latas e outros objetos de metal, cacos de vidro e pedaços desgastados de embalagens de papel que se distribuíam por quase a praia inteira, e quando a mancha soturna tomou toda extensão do mar levei um susto com um peixe que pulou da água e agora se debatia bem ao lado do meu pé direito e logo vários outros começaram a imitar o ato de desespero deste, eles abriam e fechavam a boca e as brânquias numa tentativa frustrada de respirar, parecia um pedido conjunto de socorro e a cena me dava tremenda angústia.

Algo ainda mais assustador acontecia atrás de mim que pedia minha atenção: vários dos enormes prédios, tanto os de moradia quanto de fábricas, estavam ruindo, percebi pelos estrondos e por suas sombras sumindo, pois com tanta fumaça no ar era impossível ver nitidamente os prédios ou qualquer coisa que estivesse a mais de cinqüenta metros de distância, e olhando para mais longe podia ver grandes “cogumelos” de fogo, que eram sincronizados com estrondos de explosão um pouco abafados pelo barulho tumultuado das outras catástrofes, eu estava chocado vendo o mundo se esvaindo sem que eu pudesse fazer nada, e apesar aquela paisagem distópica parecer uma pintura surrealista, como de Salvador Dali, me era muito real, então em prantos e de joelho clamei aos céus, questionando Deus o porque daquilo tudo

Em seguida acordei sentando de imediato assustado com tudo, levantando da cama e num ato de desconfiança daquilo ter sido mesmo só um sonho abri a janela do apartamento onde moro e olhando através dela podia ver a mesma vista de sempre, o que ao mesmo tempo que me tranqüilizava me preocupava, o que via eram vários prédios, e uma avenida movimentada com automóveis barulhentos com suas buzinas e alguns sujando a rua com seus carburadores, e nas calçadas pedestres apressados e uns pedintes, e um pouco mais longe fábricas com chaminés soltando uma fumaça negra (que não era tão escura quanto a do sonho, mas que me fez lembrar da cena) .

O sonho me fez refletir nas conseqüências desastrosas de nossos atos impensados, e me lembrei do fim do sonho ao qual clamava a Deus e entendi que a culpa não era de Deus, e que fomos Nós quem fizemos aquilo usando de nosso livre-arbítrio, fazendo escolhas egoístas e irracionais, destruindo aquilo que nos parecia inútil, e construindo em seu lugar a nossa própria ruína.

Cayyan
Enviado por Cayyan em 05/02/2008
Reeditado em 08/12/2009
Código do texto: T846449