DÉCIMAS de JOSÉ PENEDO

(Decidi iniciar aqui um DESAFIO aos DECIMISTAS e POETAS da Literatura de Cordel para divulgarmos e enriquecermos o ESTUDO destas pérolas da Literatura Tradicional Popular, que eu pensava ser exclusiva de Portugal, em especial ao SUL, mas fui descobrindo que está enraizada em muitos países, desde Portugal e Espanha, estendendo-se até às Canárias e países de língua portuguesa e espanhola e toda a América Latina. Tenciono divulgar em breve os estudos que fui elaborando ao longo de anos - PDF - na secção eLIVROS, para ir completando com a colaboração de muitos que vierem a aderir a este estudo e transformá-lo em TRATADO. Abraço a TODOS, zeraga, 2009.02.04

 

A TEORIA PELA PRÁTICA
OU A TENTATIVA DE DIZER
O QUE SÃO AS DÉCIMAS ATRAVÉS DE DÉCIMAS
 
As décimas, caro leitor e amigo, acho que têm a magia e o encanto daqueles misteriosos livros circulares que todos desejavam ter ou escrever, mas que os monges medievais disseram não existir nas suas bibliotecas, nem nunca ter existido, como denuncia Humberto Eco no seu labiríntico Nome da Rosa.
Assim, após longas e aturadas investigações, chegámos à conclusão que pode começar a ler uma décima por onde lhe aprouver.
O mote, ou quadra redonda se for perfeita ou de rima quadrada, há-de dar-lhe o quadrado que se vai transformar num círculo, à medida que as décimas, que vão terminar em cada verso, começarem a girar, construindo a circulatura do quadrado, ou a quadratura do círculo, que nunca foi conseguida por nenhuma das artes.
Só esta arte, de cariz e índole popular e tradicional, pela sua ingenuidade e ousadia, tenta ir mais além daquilo que as ciências exactas e as exegeses eruditas permitem arriscar.
Talvez seja mesmo a realização da UTOPIA.
Ousamos pois dizer que, através da magia das DÉCIMAS, A UTOPIA É POSSÍVEL.

Décima 01 - POESIA É POPULAR -I

MOTE
A poesia é popular
Se canta a Alma de um Povo;
Quem a souber encarnar
Vai criando um Mundo Novo.
 
I
Se olhas p’ra Natureza,
O que tem para nos dar
Desde o campo até ao mar...
Encontrarás a beleza
Que te dará a certeza
De poder admirar
O sol, estrelas, luar...
Aquilo que todos vemos.
É por isso que dizemos
A POESIA É POPULAR.

II
Mas cantar o Universo
E a vida que ele contém
No seu constante vaivém...
Sem cantar no mesmo verso
Aquele que é o maestro
E pode ver como novo
Aquilo que é como um jogo
Do eterno Criador
Só cantando o seu Amor
SE CANTA A ALMA DE UM POVO.
 
III
Não é poeta quem quer...
Quem junta versos à toa...
Quem sons e rimas entoa...
Poeta é aquele que souber,
Seja Homem ou Mulher,
O Mundo inteiro olhar
E então comunicar
O que vê com sua mente
Porque só diz o que sente
QUEM O SOUBER ENCARNAR.
 
IV
Mas este Mundo não pára,
É constante movimento
Que muda em cada momento...
Isto não é coisa rara
Nem nisto a vida é avara...
É como a ave em seu voo...
Como o espaço em que me movo...
Sem parar um só instante
Com seu poder penetrante
VÃO CRIANDO UM MUNDO NOVO.
 
Finda

Vai criando um Mundo Novo
Integrando no Universo
A Região, este Povo
Que vive aquém do Tejo.
 
Zé Penedo
Penedo Gordo, Beja, 1987 e Amora, Janeiro de 1996
(Actualização – zeraga
Corroios, 2009.02)