Acerto de contas

(Tere Penhabe)

Lá doutro lado da vida,

a viúva em fervedouro,

procura seu falecido,

para lhe arrancar o couro.

E a viúva paralela,

rindo muito da janela,

acena com seu tesouro.

E ainda diz a São Pedro,

que lhe arrume, de outra feita,

alguém mais endinheirado,

porque chega a ser desfeita,

gastar tanto de esperteza,

por mixuruca grandeza,

que lhe fez insatisfeita.

Pois o seu novo marido,

precisa ser bem tratado,

comer bem e vestir bem,

por conta do seu finado.

É justo que o valentão,

entre com o seu quinhão

quietinho e bem comportado.

Sua passagem na vida,

por chifre traumatizado,

não lhe eximiu de levar,

chifre depois de enterrado.

Que a viúva emputecida,

não lhe esfola nem trucida,

com pena do seu finado.

Em vez de tirar-lhe o couro,

acabam é proseando,

como lá nos velhos tempos,

o passado recordando.

E rodeados de anjos,

querubins e os tais arcanjos

o riso vão esbanjando.

Vai daí que pinta um clima...

E o espertinho já se assanha,

vem lá com seu prosuê

querendo fazer barganha.

Porém, viúva lesada,

não entra noutra roubada,

e nem dá mole na manha.

Traz à mão calculadora,

sem qualquer constrangimento,

bota preço no guisado,

finge não ouvir lamento,

computa juros de mora,

acrescidos da demora,

na ocasião do passamento.

Transforma o quinhão em dolar,

com grande poder de siso,

que o calote do finado,

pôs em risco até seu riso,

Doravante, nesse porto,

seja vivo, seja morto

Não causa mais prejuízo.

Dá-lhe logo um ultimato,

sem fazer abatimento,

Que Amélia foi enterrada,

junto com seu sofrimento.

E diz ao cabra safado,

que pra mexer no guisado,

lhe adiante o pagamento.

Santos, 10/04/2009

www.amoremversoeprosa.com

http://artculturalbrasil.blogspot.com/2009/01/terepenhabe.html