Uma Incelença ao meu ex-amor.


Com uma “Coberta d’alma”
Eu fui ao teu casamento,
Era a roupa de um defunto
Que eu ganhara no momento
Da morte de uma vizinha
Que uma roupa nova tinha.
Ganhei como “paramento”.

Um paramento que era
Oferecido, afinal,
A alguém: amigo ou parente,
Pra seguir no funeral
De alguém que a roupa comprou
Mas a mesma não usou.
Era homenagem legal.

E a pessoa que usava
A “coberta d’alma” era tida
Como sendo o próprio ser
Que ali jazia sem vida.
E, assim, era abraçado
E por seu nome chamado
Na hora da despedida.

Era-lhe oferecida
A “última” alimentação
E o último copo d’água
Com amor, com emoção.
E aí, quem ali estava
Ao morto representava
Com presença e com ação.

Vestido com a roupa nova
Do morto e alimentado,
Vem, enfim, a despedida
Quando será dispensado.
Representando o defunto,
É “encomendado”. E junto
Aos outros, vela o finado.

“Vai em paz e deixa em paz
A todos que aqui estão”!
Era assim recomendada
A alma do tal cristão,
Todos juntos a pedir
Praquela alma seguir
Em busca da salvação.

Um cortejo onde domina
O preto, segue, afinal,
Acompanhado de música
Cantada por um coral,
São “Incelenças” criadas
Às almas que, encomendadas,
Seguem o caminho final.

E ainda, no Sétimo dia,
Com “a coberta d’alma”, então,
À missa, quem a ganhou,
Irá, fazer oração
À alma do falecido.
E eu fui com aquele vestido
Cinza, qual meu coração.

Pra minha infelicidade
A Missa de Sétimo Dia
Era, também, na verdade,
Uma missa de alegria
Para um casal de pombinhos
Que ali trocava carinhos,
Plenos de amor e euforia.

O dia do casamento
De alguém que nunca esqueci.
E ao passar pelos dois,
Para não chorar, sorri.
Sentei atrás, disfarçando
Lágrimas de fel que, teimando,
Dos olhos descer, senti

Tu, na tua roupa bege,
Que me lembra algo sem cor;
Eu na minha roupa cinza
Que me lembra a cor da dor
Que eu sinto por ter perdido
O meu ente mais querido,
Quando perdi teu amor.




Rosa Regis, Natal/RN – 21 de novembro de 2010.
Às 12:21h – Hora de Brasília


Rosa Regis, Natal/RN – 21 de novembro de 2010.
Às 12:21h – Hora de Brasília

1.As Incelenças (Língua portuguesa: Excelência por corruptela) é um gênero musical brasileiro, típico da Região Nordeste do Brasil. Tradicionalmente atreladas a costumes fúnebres, o termo Incelença remete uma ampla coleção de pequenos cânticos, hinos e benditos executados durante velórios, missas de sétimo dia e festividades relacionadas ao Dia de Finados.