MULHER DE BRANCO
Quis que fosse um flagrante
Não marquei hora nem dia
Cheguei meio de surpresa
Em surdina, todavia
Pra pegar ela no pulo
Quiçá com um cabra chulo
Desmascarar a vadia.
Andava desconfiado
Escutei um zum-zum-zum
Que ela andava me traindo
E com muito mais de um
Ferido no meu orgulho
Entrei sem fazer barulho
Disposto a matar algum.
Uma gemedeira vinha
Me incomodando demais
Parecia vir do quarto
Aqueles ruídos de ais
Apurei minha acuidade
O boato era verdade
Era hoje ou nunca mais.
Avancei com arma em punho
Daria então fim nos dois
Teria que ser agora
Não podia ser depois
Abri a porta num tranco
Vi minha mulher de branco
Cuidando do enfermo Lois.
Ela olhou-me apavorada
Minha cara foi pro chão
Sempre fora enfermeira
Quis saber qual a razão
Disse ser o meu teatro
E fiquei ali de quatro
Beijando então sua mão.