Reclame de Trabalhador


Seu doutor estão dizendo
Que o governo está fazendo
Um tal controle de preço
Pra nada o valor subir
E eu poder consumir
Tudo aquilo que mereço.

Pensei que fosse vantagem
Mas vi numa reportagem
Uma lista dos produtos
E o que não tiver aumento
Não vai servir de alimento
Nem mesmo pra bichos brutos.

Parece ser uma beleza
Ter produto de limpeza
Todo ele bem tabelado
Enquanto o que é pra comer
De repente a gente ver
Todo o seu preço aumentado.

Do jeito que a coisa anda
Toda a pobreza desanda
Pra comer sua refeição
Termina passando mal
E viver qual animal
Tendo que comer ração.

E assim o pobre vivente
Vai se tornando indigente
No seu sofrer e lamento
E de certo vai morrer
Se então tiver que fazer
Da higiene alimento.

Pois então aqui vejamos
Onde é que colocamos
Esse bombril pra comer
Isso é pra panela suja
Quando comido enferruja
E faz a gente morrer.

Sabão fósforo e detergente
São coisas que aqui pra gente
Não tem muita serventia
Mas farinha, arroz, feijão
Carne seca leite e pão
Tem aumento tudo dia.

De que adianta eu ter
Fósforo pro fogo acender
Pra botar minha panela
Se eu não tenho o alimento
Pra fazer o cozimento
Da fervura dentro dela.

O leite da vacaria
Que agora em sacaria
Faz a gente adoecer
Vem tão miúdo e aguado
Que até bezerra enjeitado
Não tá querendo beber.

Tanto produto enlatado
Num mundo globalizado
Que pobre não tem acesso
Pois só lhe sobra o rescaldo
De um tão minguado caldo
Do restolho do progresso.

O pobre nada consegue
Pois seu esforço é entregue
Pra enriquecer o patrão
É tão o pouco o que lhe resta
Não sobra pra fazer festa
Só dá mesmo para o pão.

É isso mesmo doutor
Imagino que o senhor
Vivendo no seu deleite
Não sabe o preço do pão
Da farinha e do feijão
Do açúcar e do leite.

Se disso o senhor soubesse
Via o pobre que padece
Ganhando ruim salário
Congelaria alimento
Pois ele faz o sustento
Da força do operário.

Não dá pra se conceber
Que somente pra comer
Tenhamos que trabalhar
Enquanto que algum político
Não usa do senso crítico
Quando o povo quer explorar.

Não entendo de economia
Mas nessa minha agonia
Já posso compreender
Que se houver mais aumentos
Nos preços dos alimentos
Não dá pra sobreviver.

Seu doutor o que eu sei
É que fome já passei
No tempo que era criança,
E a fome hoje é um vulto
Que mesmo já sendo adulto
Me faz perder a esperança.

E é porque seu doutor
Eu sou um trabalhador
Sou muito bom operário,
Trabalho qual animal
Pra receber no final
A miséria de um salário.

Me disse o senhor um dia
Que o salário é a garantia
Da minha sobrevivência,
Que dá pra me alimentar
Ter saúde e passear
E aos filhos dá assistência.

Mas não sei não seu doutor
Eu sinto um certo pavor
Vendo tudo num funil,
Vejo o pobre sendo escravo
Que mendigam os centavos
Da riqueza do Brasil.

Talvez eu seja culpado
De ser assim maltratado
Doente e passando fome,
Foi por que eu acreditei
Nas promessas que escutei
E assim votei no “home”.

Se todo trabalhador
Agindo como eleitor
Prestasse mais atenção
Teria o quadro mudado
Transformando o resultado
De qualquer uma eleição.

Mas é isso seu doutor
O pobre trabalhador
Nesse governo padece
Quem vota mal na eleição
Vai ter pra sua nação
O governo que merece.

Se o senhor com o seu poder
Algo quisesse fazer
Pra grandeza da nação
Cuidava mais do operário
Lhe aumentaria o salário
Não lhe roubaria o pão.

Março/1986.









Lucarocas
Enviado por Lucarocas em 10/08/2011
Código do texto: T3152229
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