A MARCA DO AMOR *

Um menino possuía
No seu rosto juvenil
Uma cicatriz bem grande
Que manchava seu perfil
Por isso, no seu colégio
Não detinha o privilégio
De ter amigos diversos
Na classe, um discriminado
Devido ao rosto marcado
Eram com ele perversos

Foi chamado o professor
Para uma reunião
A turma, de pronto, dá
A seguinte sugestão:
Que o rapazinho em comento
Tal estabelecimento
Deixasse de frequentar
Essa proposta seria
Levada à diretoria
Pra providência adotar

Tomar aquela atitude
Seria uma insensatez
A direção do colégio
A contraproposta fez:
Convencer o estudante
A partir daquele instante
A mudar seu dia-a-dia
Entrar lá por derradeiro
Na saída, ser primeiro
Evitando a zombaria

Ninguém veria o garoto
Da maneira sugerida
Assim, não se horrorizando
Com a marca referida
Fitariam o rapaz
Só se olhassem para trás
Pois seu lugar era ali
Após ter aprovação
Da citada imposição
Ficou ciente o guri

Ele aceitou, co'a ressalva
De comparecer na classe
E na frente dos alunos
Sobre a cicatriz falasse
Toda a turma é concordante
Se pra ele era importante
Ouviriam o argumento
E no dia combinado
O menino aqui citado
Fez o seu pronunciamento

"Entendo vocês, amigos
Esta cicatriz é feia
Todos fiquem sabedores
Ela também me aperreia
Atenção para o relato
Vou compartilhar o fato
Que este sinal motiva
Escutem com paciência
Terão, dessarte, ciência
Inicio a narrativa"

"Minha mãe, mulher bem pobre
Batalhadora senhora
Para ajudar no sustento
Passava roupa pra fora
Cuidou de quatro filhinhos
Eu e mais três irmãozinhos
Naquela casa sofrida
Eu, mais velho, de oito anos
Tinham quatro e dois os manos
E uma irmã recém-nascida"

"Certo dia, nossa casa
Construída com madeira
Começou a pegar fogo
Ouvi gritos, choradeira
Minha mãe me deu as mãos
E pegou meus dois irmãos
Pra poder salvar também
Pra fora levou a gente
Estava ali muito quente
Tinha ficado a neném"

"Me deixou tomando conta
Dos menores e saiu
Pra salvar nossa caçula
Mas o pessoal que viu
Impedia seu retorno
Pois a casa estava um forno
Ela corria perigo
Estava desesperada
Por sua filhinha amada
Vou agir, pensei comigo"

"Deixei meus irmãos seguros
E corri sem ser notado
Quando todos perceberam
Na casa eu já tinha entrado
Numa cena de desgraça
Havia muita fumaça
Mas não desisti do intento
No berço, vi minha irmã
Era enorme meu afã
De fazer seu salvamento"

"Nesse instante, percebi
Algo cair do telhado
Joguei-me sobre a bebê
Pra proteger, assustado
Aquele troço fervente
Encostou, incandescente
No meu rosto, dor intensa
Apesar da queimadura
Escapamos da quentura
Alegria foi imensa"

A turma que até então
Fazia silêncio, quieta
Chora copiosamente
Quando o garoto completa:
"Depois daquela agonia
Uma coisa me alivia
Ameniza tanta dor
Todo dia, a cicatriz
Minha irmã beija, feliz
Sabe que é MARCA DO AMOR..."

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* Adaptação de texto recebido por e-mail
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Grato pela interação, poeta Marcos Medeiros:


Quem quiser mangar que mangue
de alguem que foi maculado
mas verá no próprio sangue
as marcas do resultado