MÉTRICA E EMOÇÃO: UM CASAMENTO POSSÍVEL
 

O verso medido me encanta, fascina
Seduz por demais aplicar nele a regra
A dita escansão é tarefa que alegra
Por isso, faz parte da minha rotina
Não quero jamais afrontar quem assina
Um texto liberto de norma ao criar
Apenas lhe peço um favor: respeitar
Quem tem na contagem prazente conduta
Motivo inexiste pra ter a disputa
Afirma o galope na beira do mar

As vozes do peito não tolho se meço
A estrofe composta conforme o estilo
A verve fervente nas letras destilo
Se falta, acrescento; retiro o excesso
Adoro fazer, linha a linha, o processo
Com calma, carinho e cuidado sem par
Demora, mas vejo agradável ficar
Não quero dizer que se livre é mais feio
Defendo somente o notável enleio
Dum belo galope na beira do mar

Falar que limita o poder criativo
Ou fere a beleza da peça gerada
A forma na linha do texto empregada
Não é bem sensato, vou ser assertivo
Qualquer escritor pode ser emotivo
Verter poesia e cultura emanar
Embora seus versos prefira enjaular
Em trova, soneto, quadrão, carretilha
Indriso, martelo, rondel ou sextilha
Até num galope na beira do mar

Exponho meu ponto de vista, dessarte
Por uma questão de gostar, metrifico
Quem quer liberdade não malho ou critico
Conquanto levante da forma o estandarte
Apoio às vertentes diversas da arte
Decerto, acreditem, vou sempre prestar
Entendo possível, contudo, casar
As fórmulas fixas com alma, emoção
Bastante é fazer com amor, coração
Tal como um galope na beira do mar