A VINGANÇA DE NESSO (Mitologia em Cordel)

A VINGANÇA DE NESSO

(Um cordel em fase de criação, portanto, ainda com erros que, futuramente, serão corrigidos)

NESSO e o falso filtro do amor

O rio Eveno está sujo:

Em si boiam animais

Afogados, plantas mortas,

Representando sinais

De que ele será palco

De tragédias colossais.

Pois Nesso, o centauro feio

Que em suas margens mora,

Meio homem e meio cavalo,

De alma humana, que deflora

Com violência as mulheres,

Apaixona-se agora.

Transportando os viajantes

De uma margem a outra do rio

Sem que ninguém lhe agradeça

Devido ao seu ar sombrio,

Nesse dia, Dejanira

Provocou-lhe um desvario.

E com o amor furioso

Que lhe é peculiar,

Violentamente ele tenta

Com Dejanira transar.

Esta grita. E surge Hércules

Que a ouve. E a vem salvar.

E pegando, rapidamente,

Seu arco e firmando a seta,

Com um disparo certeiro,

No peito de Nesso acerta.

Porém este, antes do fim,

O seu veneno ainda injeta.

Moribundo, a amada pede,

Com o seu ar fingidor,

Para recolher seu sangue

Que diz: é o filtro do amor,

Um ungüento que traz de volta

O marido traidor.

Basta que quem o possua

Use-o da forma a seguir:

Unte o corpo do marido

Quando este, um dia, trair.

E Dejanira acredita.

Mas ele está a mentir.

E, embebido num retalho,

Dejanira traz consigo

O sangue do moribundo

Que imagina, agora, amigo.

Sem saber que está retendo

A vingança do inimigo.

Hércules, escravizado à bela Ônfale

O rei de Ecália, seu mestre

Que o ensinou a usar,

Na infância, o arco, agora

O está a acusar

De ladrão de gado. E Hércules

Foge para não o matar.

Contudo, Ífito, o filho

Do Soberano, irá

Em busca do herói. E este,

Sem ter como se livrar

Da luta, o enfrenta. E mata-o.

E o seu crime expiará.

Para a Corte de Ceíce,

Na Traquine, levará

Sua amada Dejanira:

Vai pedir a Ptanisa

Para do deus o livrar.

Pois que sabendo, em verdade,

O que o deus tem em mente,

Ele poderá alcançar

O seu perdão. Ele o sente.

Entretanto, a Ptonisa

Recusa-se veementemente.

O herói, assim, deverá

Com sua culpa ficar.

E pelo resto da vida,

Como uma carga, carregar

O pesado fardo que Juno

Lhe deu, para o seu azar.

Irritado, e possuído

Pela loucura que lhe envia

Juno, a esposa de Zeus,

Que o atormenta dia a dia,

Hércules quebra o santuário

E leva a Sacerdotisa..

E aí, Apolo, zeloso

Com a sua Ptonisa,

Fica furioso, assistindo

A tudo, à Terra desliza,

Atracando-se com o mortal

Em terrível e feroz briga.

Porém, do alto do Olimpo

O grande Júpiter, também,

Vê o combate, e se lança

Da sua morada, e vem

Para o meio dos mortais,

Diante de Si, ninguém.

E, com sua autoridade,

Ordena a separação:

Fazendo-os desculparem-se

E apertarem-se as mãos.

E faz que Apolo lhe revele

A Via da purificação.

Ser vendido como escravo

É a sentença que caberá

A Hércules que, por três anos,

Escravo permanecerá.

E o dinheiro da venda

Para o rei da Ecália irá.

E o filho de Júpiter, agora,

Propriedade vai ser

Da rainha Ônfale, que o leva

Consigo, e que irá fazer

Da sua vida um inferno

Que só vendo para crer.

Ela o humilha de forma

Que o faz sentir-se um nada,

Com a escravidão penetrando

Na sua alma humilhada

Como se fora um mal

Ao qual fora condenada.

Leva-o a trabalhar a terra

E aos rebanhos pastorear.

Aos inimigos de Ônfale,

Como seus, combaterá.

E, vestido, de mulher,

A roca irá manejar.

E ainda, o que é pior,

O deus ainda fará

Que ele ame a sua dona

Numa paixão que será

Feita de agonia e fraqueza,

O que mais o humilhará.

Mas os três anos se vão.

E o cativeiro acaba.

No entanto, a liberdade

Com tanta ânsia esperada,

Dói, quando ele se despede

De Ônfale, sua dona/amada.

Com a vingança em mente,

Em seguida partirá.

E numa guerra sangrenta

A Eucália sitiará,

E invade o palácio do rei

Êurito, ao qual matará.

E não só o rei ele mata,

Mas todos seus descendentes.

E apossa-se da viúva

Do inimigo. E, assim, sente

Que, enfim, está vingado.

E isto o deixa contente.

Hércules morre. Juno perdoa.

Entre prantos e lamentos

Na corte de Ceíce, agora,

Dejanira aguarda Hércules

Lamentando-lhe a demora.

E se perguntando o porquê

Disso, outra vez ela chora.

-Se o seu tempo de cativo

Sob Ônfale já passou,

E a vingança contra Êurito

Também já se consumou!

-Porque Hércules não regressa?

-Talvez tenha um novo amor!

Dejanira sobressalta-se

Com o coração apertado

Pela dúvida que cresce

De que Hércules, seu amado,

Tenha um novo amor e, por isso,

Ainda não tenha voltado.

E, possuída de medo

De perdê-lo, vai procurar

Licas, que o acompanhava

Em todo e qualquer lugar,

E, interrogando-o, obriga-o

À verdade revelar.

E, obrigado, ele diz

Tudo que ela perguntou:

-Hércules uniu-se à Íole,

agora o seu novo amor.

Vivendo feliz com ela.

E por isso é que não voltou.

De início, Dejanira

Ao seu sofrer se entregou.

Depois, lembra que o Centauro,

Nesso, ao morrer lhe deixou

Seu sangue em um pano, e disse

Ser um filtro do amor.

E chega a oportunidade

Que ela tanto esperou

Com uma mensagem que Hércules,

Por alguém, lhe enviou:

Queria que lhe mandasse

Uma veste nova. A mandou.

A veste que Hércules pedia

Era para ele usar

Na consagração a Júpiter

De um grande e belo altar.

E nela Dejanira iria

O filtro do amor usar.

Na túnica nova, a esposa

De Hércules, pois, esfregou

A mágica porção que Nesso,

Ao morrer, lhe ofertou.

E depois, ao marido distante,

O traje ela mandou.

E agora o que lhe resta

É tão somente esperar

Que ele retorne correndo,

Vibrando de amor pra dar.

E ela tem toda a certeza,

Isso não vai demorar.

Enquanto isso, o marido,

Que de nada desconfia,

Recebe a túnica, vestindo-a,

Pois logo se iniciaria

A cerimônia do altar

Que a Júpiter se oferecia.

É o começo do fim.

Pois o pano umedecido

Com o veneno de Nesso,

Ao corpo fica aderido,

Penetrando-lhe na pele

E deixando-o enlouquecido.

Não era o filtro do amor

Que o centauro vingativo

Entregara a Dejanira,

Era o seu ódio ativo.

A morte, com que Nesso, morto,

Presenteia a Hércules, vivo.

E Hércules, enlouquecido

De dor, tenta arrancar

De si a roupa maldita,

No entanto, ao rasgar

O tecido em si aderido,

Sua pele rasgará.

E a carne despedaça-se

Com a roupa envenenada.

Suas entranhas, em fogo,

Estão sendo devoradas.

Não existe salvação.

Sua vida está acabada.

À presença de Dejanira,

Aos gritos, é o herói levado.

Mas não era assim que sonhara

Receber o esposo amado

Que, ardendo, se lhe apresenta

Totalmente transtornado.

E o sofrimento de Hércules

Tão fortemente feriu

Dejanira que, não podendo

Ver o seu sofrer, decidiu

Suicidar-se. E, ali mesmo

Aos seus pés ela caiu.

E no fogo, lentamente,

Hércules agoniza, na dor.

Mas, usando a lucidez

Que num momento aflorou

À sua mente, ele, ao filho

Hilo, pede um último favor.

Suplica que este espose

Íole, deixando-a amparada

Pelo resto de sua vida.

Protegendo, pois, a amada,

Já que ele não poderá,

Por ela, fazer mais nada.

Depois pede que alguém

Lhe acenda uma fogueira

Para que possa expressar

Sua hora derradeira,

Acabando com o fogo invisível.

Com a horrível queimadeira.

Mas ninguém quer atender

Seu pedido, quase prece,

Porém, enfim, seu amigo

Filocfetes, se compadece:

Acende a pira, onde Hércules

Se joga e, assim, fenece.

Ante os olhos perplexos

Da multidão assustada,

Hércules joga-se nas chamas.

E aí, uma trovoada

Enche o espaço. E o herói

Morre sem falar mais nada.

Do fogo, ele sobe ao Céu

Numa nuvem que o levará

Aos deuses do Olimpo,

Na frente dos quais estará

Júpiter, seu pai querido,

Que o imortalizará.

E além de imortalizá-lo,

De Hebe, a mão lhe dará

Como esposa divina.

E aí Juno esquecerá

A velha inimizade.

E como filho o acolherá.

Terminou sua loucura.

Finalmente se cumpriu

O seu destino maldito...

Finalmente Hércules viu

Suas faltas perdoadas;

Juno, sua amiga tornada.

E como imortal, sorriu.

Rosa Regis
Enviado por Rosa Regis em 19/03/2007
Código do texto: T418660
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