TRÊS BALAS, UMA MORTE (ou A Bala Certeira)

Na Baixada Fluminense

um estranho caso ocorreu

Não sei quem foi quem contou

ou quem foi quem devolveu

Só sei que houve lá mesmo

e assim mesmo conto eu

Numa noite muito escura,

uma mulher na rua andava,

já estava de sete meses

e três meninos guardava

na barriga muito grande

que só o momento aguardava

Num tiroteio sem graça

voaram três chumbos doidos

batendo em cada menino

que não foram nem paridos

Pra dizer que foi milagre

os três não foram feridos

Parto simples, coisa pouca,

a mulher criou sozinha

os três moleques saudáveis

sem o auxílio da vizinha

Os três levantavam cedo

e iam cedo pra caminha

Passados bem doze anos

muita coisa melhorou

Eram tantos afazeres

que a mulher-mãe nem notou

que os trigêmeos já eram grandes

e tudo manso ficou

Estava tudo tão bom

prosperidade danada;

pra cuidar dos três meninos

tinha até uma empregada

A mãe tinha tanta coisa

que não dava tempo pra nada

Tudo foi acontecer

numa manhã de atropelo

Tanta pressa e correria,

foi o maior desmantelo

Veio um menino chorando

pra mãe, pedindo um apelo

— Mãe, acordei tão cedo

e fui correndo pro banheiro

tirar água do joelho

lá bem perto do chuveiro;

saiu-me uma bala do pinto,

acho que fui o primeiro

Mal a mãe só escutava

a história já esquecida

das balas daquela noite

que mudou a sua vida

e acreditou no milagre,

assim ficou convencida

O segundo chegou correndo

pela saia a puxá-la

com cara de apavorado

pelo braço a segurá-la:

— Mamãe fui dar uma mijada

saiu do pinto uma bala!

Quando o terceiro chegou

com a cara bem carregada,

a mãe só disse: - Já sei!

Mas escutou abismada:

— Estava me masturbando

e dei com uma bala na empregada