Nanda responde a Frei Dimão

Nanda, Frei Dimão pede para lhe encaminhar a mensagem abaixo:

Soube que a moça de Tesouro

andou por aqui me maldizendo

malgrado seu coração de ouro

na alma ela carece remendo.

Sou um frade mal compreendido

solitário feito ovo de indês

e quando me baixa a sacra libido

de mim se afasta a própria Xerez.

Tenho a maior consideração

por essas rebeldes ovelhas

dobro os joelhos em oração

fico de orelhas vermelhas.

Já tentei a conversão

mas encontro tal resistência

que faz deste teu frei Dimão

temer a concupiscência.

Vou tomar medida radical

buscando o demo tirar

para que a cólera celestial

impiedosa, baixe sem par.

Assim como lavaste a batina

de forma obediente e piedosa

chamar-te-ei para a matina

que dá bênção mais dadivosa.

Vem pois comigo à sacristia

para a sacra ministração

que a fome d´alma sacia

e te alegra o coração.

Da sacristia rumo à clausura

é um passo bem necessário

por isso, minha mão segura

para evitar o calvário.

Prepara-te para a confissão

onde te espero contrita

encontrarás a salvação

no que minha mente te dita.

O teatro, quero que evites

pois isto muito te expõe

a platéias sem limites

pois só o Pai põe e dispõe.

E o namoro de portão

rigorosamente proibido

são inoportuna ocasião

para o levante da libido.

Nada mais de flertar

ou de usar ousado decote

ir a paiol, nem pensar

o demo pode dar o bote.

Vou passar leve penitência

mas foge do espetáculo

o teatro é raiz indecência

vem, e oscule meu báculo.

****

Nanda contesta seu confessor:

Frei Dimão, porque cê não confia

Nesta fiel e humilde ovelhinha

Que reza e medita noite e dia

Em seus aposentos reza sozinha.

O que a grande Hull propagou

Foi lição da sábia natureza

É que o pássaro fogo-apagou

À tarde cantou na hora da reza.

O pássaro cantava e trinava

Que tudo estava carunchado

O báculo que o frei usava

Precisava ser trocado.

Dizem que passar querosene

Tira todo e qualquer caruncho

Mas talvez isto desordene

E alguma coisa vira garrancho.

E aí o senhor tira a conclusão

É melhor pegar o breviário

E ficará livre da alucinação

Se rezar com fé no Santuário.

Se acha rebeldes as ovelhas

É melhor dobrar a oração

Porque só orelhas vermelhas

Nunca, nunca será a solução!

Porque num vai pro retiro

E faz jejum e penitência

E todo e qualquer delírio

Não mais terão consistência.

Não sei o que o Frei apronta

Que suja tanto a batina

Todos os dias lavo e passo

Sempre dou-lhe uma faxina.

Ah, se sua batina falasse...

Ela sente e não se queixa

Para que não haja impasse

Do jeito que está ela deixa.

Mas das badaladas que guarda

A exemplo do mata-borrão

Cala, e assim salvaguarda

O bom nome do frei ancião.

Como segui seus conselhos

Mereço uma santa bênção

Contrita fico de joelhos

E enche de graça meu coração.

***

Hull veio em meu socorro com seus prudentes conselhos:

Minha Nanda tão querida

como tu tens paciência

para tantas investidas

desse frei das penitências.

Te peço por caridade

Pare de lavar batina

com tanta sebosidade

que de onde vem não se atina.

No convento onde ele está

deve ter lavanderia

e as freirinhas de lá

gostam dessa liturgia...

Ademais já não se usa

a batina na igreja

e o Frei Dimão abusa

porque algo ele almeja.

Um beijão pra ti devota,

de Jesus o Redentor,

doravante vê se adota

só Jesus como Senhor!

Um abraço para o Frei Dimão, outro pra você,

***

Nanda fala com Hull sobre uma proposta que fará ao Frei Dimão:

Hull, minha amiga do coração

Vou lhe contar um segredo:

É matéria de alucinação

Até de falar tenho medo.

Frei Dimão tem muito apego

A esta “santa batininha”

Ela representa o chamego

Na falta d’ma sinhazinha.

Acho que ele está muito só

E precisando de companhia

Para um jogo de dominó

Pois não adota cervejaria.

Eu tenho uma proposta

Que direi ao Frei Dimão

Espero até que ele goste

E que não vá me dizer não.

Agora ele já ta dormindo

Pois deita-se “com as galinhas”

Sonha...sonha e fica sorrindo

E amanhã vem com as ladainhas.

Então darei a boa nova

Ao nosso Frei Dimão

Assim que sair da alcova

E tomar seu chimarrão.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 03/10/2014
Reeditado em 06/10/2014
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