* Os irmãos *

Um camponês tinha três filhos.

E todos eram uma bênção,

Os três eram fortes, saudáveis e,

Tinham pouca disposição.

Apesar disso eram bons rapazes.

Que partilhavam as pazes

Com todos da região.

O seu único defeito

Era detestarem trabalhar,

Era um defeito considerável.

Seu pai vivia a lamentar.

Conversavam sobre nada

Até alta madrugada

Numa rede a se balançar.

Quando estavam com vontade,

Ás vezes iam pescar.

Mas se apanhavam muitos peixes,

Eram capazes de não os levar

Porque trabalho lhes dava

Por isso ás vezes o largava.

Pois não queriam limpar.

Os vizinhos meneavam a cabeça

Quando os viam deitados no quintal.

— Porque não ajudam o vosso pai?

Nesse trabalho duro e braçal.

— O pai gosta de trabalhar,

Porque haveríamos de lhe negar

Esse prazer especial?

Os irmãos riam-se e acabavam

Por ali mesmo adormecer.

Os anos passaram e, por fim,

Ficavam a envelhecer

O velho pai, gasto e cansado,

No leito de morte preocupado.

Como seria que ia ser?

— Meus filhos, meu fim se aproxima.

Em breve vos deixarei,

Mas temo pelo vosso futuro.

Pois nada de bom vos ensinei.

Os rapazes acordaram da apatia

E trocaram olhares de simpatia

Está preocupado, mas mudei.

O mais velho ajoelhou-se

Ao lado do pai e pediu:

— Pai, dá-nos os teus conselhos,

E a tua bênção, viu.

Diga o que devemos fazer?

Que faremos com prazer

Beijou-lhe as mãos e saiu.

O pai olhou para os filhos

E disse bem devagar:

— Quando eu era mais novo,

Fiz o possível para juntar

Cada moeda de ouro

Consegui um pequeno tesouro

E no quintal quis enterrar.

À medida que o tempo passou,

E que vocês foram nascendo,

Deixei de guardar dinheiro

Do ouro fui me esquecendo

Não lembro o lugar no quintal,

Espero que encontres o tal

E dividam, porque estou morrendo.

E, com estas palavras,

O último suspiro exalou.

Os filhos choraram pelo pai

E sua memória trazia dor

Mas começaram a ter fome,

E a falta de comida os consome

E lembraram-se do que o pai deixou.

— Nosso pai falou de um pote de ouro

— Disse um dos irmãos.

— Sugiro que comecemos a cavar

Em volta da casa e da plantação.

E que tentemos encontrar

O ouro que ele veio enterrar

Para a nossa salvação.

Pela primeira vez nas suas vidas,

Eles começaram a trabalhar.

E foram cavando a terra.

Mas estavam pra não aguentar.

Onde havia músculos havia dor,

Mas o ouro ninguém achou.

Mas não pararam de cavar.

Recomeçaram no dia seguinte.

Cavaram até o quintal se revoltar

E a terra ficar fértil e escura,

E nada do ouro encontrar.

Cavaram fundo e nada.

Dia, noite e madrugada.

Rochas grandes vieram encontrar.

Rolavam-nas para o lado,

E construíram muros com elas.

Até o campo estava cavado,

Fértil e escuro como aquelas

Mesmo assim, nada encontraram.

Os irmãos por fim se olharam

O mais velho disse: - Mazela.

— Perdermos todo nosso trabalho.

Vamos plantar uma vinha e tentar

Deitar mãos ao negócio.

Assim, eles resolveram plantar.

As uvas cresceram e prosperaram.

Um dia no alpendre sentaram

Para seus trabalhos contemplar.

As videiras carregadas de uvas

Para consumo e para vender.

Os anos passaram e se casaram,

Constituíram família com prazer.

E ensinaram seus filhos a amar

E a gostar de trabalhar.

Para muito melhor viver.

Quando chegaram à meia-idade

E suas barbas brancas estavam,

Sentaram-se no alpendre

Horas e horas conversavam.

— Havia mesmo ouro no quintal.

O nosso pai era genial.

— Os irmãos sábios concordavam.

Claudia Pinheiro
Enviado por Claudia Pinheiro em 18/11/2014
Código do texto: T5040213
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