O CONTO DO VILA BIRU

Capítulo I

O Treinadô do Vila Biru

Cdor Heraldo Lage

www.hlage.com.br

*** Esta é uma Obra no estilo Literatura de Cordel.

Trata-se de mera ficção. Nomes, lugares, coisas... Tudo fictício !

Qualquer semelhança com fatos reais terá sido Mera Coincidência. ***

****************************************************

Perfácio

O Conto é n’um time de futebor

De nome Vila Biru, que encanto

N´ um Vilarejo no litorar, de Sor

Chamado “Arraiá do Manto”

Naquele arraia o que é pior

Tudo é incubertu pelos canto.

I

E agora nóis vai contá

Uma istória de arrepiá

De um tar que manda lá

Ele dá muito o que falá

II

Ele treina a criançada

No futebor de jogada

Mas cobra da meninada

Umas coisa meio sargada

III

No time de nome Vila Biru

Ele manda e é o protegidu

Só farta inté o baita dá tiru

Por ninguém é perseguidu

IV

Diz que ele é inté meiu froxo

Mas num perde o seu tempo

Pras criança ele é sacu roxo

E que promete argum alentu

V

Gerarmente é a criançada

Pobrezinha e desprezada

Que ele ingana nas carçada

Prometendo vida arrumada

VI

Leva elas prá dormi

Na sua maloca, morada

E dispois as faz senti

A força da sua picada

VII

Diz que o povo todo conta

Que ele gosta é de criança

E a turma fica bem tonta

Perdida em suas lambança

VIII

Mente que é bom treinadô

E que vai ajudá a crescê

Os moleque tão sonhadô

Com um novo amanhecê

IX

É assim que ele arrasta

Pra sua casa a molecada

Mas só isso já num basta

Porque é o rei da cocada

X

Meio velho e meio artista

Meio esperto o rei da pista

Me lembra inté a lagartixa

Que perde o rabo e espicha

XI

Porque ele faz e ninguém pune

Diz que o anjo da guarda é forte

Por isso ele fica sempre impune

Êitcha ! treinadozinho de sorte!

XII

Diz que teve inté uma muié

Mas perdeu em argum lugá

Porque meteu sua colhé

Onde num deveria infiá

XIII

Morava num outru impregu

Mas dormia com a criançada

E como la num tinha sussêgu

Se mudô pra uma nova morada

XIV

No lugá onde agora ele está

Lá tumbém num pode ficá

As criança num pode levá

Qui os vizinho vão atrapaiá

XV

O que ele qué é argum lugá

Onde possa ficá a vontade

Pra podê das criança abusá

Com a sua totar liberdade

XVI

Diz que ele contrata, bãozinho

Leva as criança no seu carrinho

Dispois arrasta pro seu ninho

Pra tratá de fazê seus carinho

XVII

E as criança bem dislumbrada

Com tantas promessa detalhada

De crescê no futebor, inganada

Aceita e fica tudo arregaçada!

XVIII

Diz qui ele inté contratô

Uns moleque e num pagô

E as pessoa que foi avisada

Ficô quieta e num fez nada!

IXX

Prometeu ajuda e inté uma iscola

Pra tê apoio dos pai das criança

Logo tratava tudo como ismola

Como gadu levadu pra matança

XX

Dispois qui consiguiu toda a ajuda

Prá ter tudo os seus time formadu

Protegido por sua folha de arruda

Sortô um baita pontapé nos coitadu

XXI

E o pai dum atreta qui num é troxa

Pra num atirá no esperto de mocha

Foi cuidá da carrera do seu filho

Sem pensá em puxá os gatilho

XXII

O treinadô deve em tudo que é lugar

Isqueceu, coitado, de ir lá prá pagar

Infiô tudus pepino no time Vila Biru

Esse bandido merecia era uns tiru

XXIII

No padeiru buscô pão pra moçada

Nas iscola matrículas da garotada

Ocê já pago? Nem ele! Qui nada!

Ele ferrô foi com toda a piasada!

XXIV

Dinheiru que ele dava pro atreta

No cumeçu pra fazê suas média

Dispois passô a dá só bicicreta!

Tantos gorpe, parecia comédia!

XXV

E o que nun dava pra acreditá

É que o dono era bem avisadu

Mas ficava bem quieto só a oiá

Os apronto daquele disgraçadu

XXVI

No Vila Biru tem coisa estranha

Inté andô em processus metidu

Diz que nada naquelas entranha

Derruba e nem ninguém sai firidu

XXVII

Porque os Dono é gente de muito pudê

Manda inté na Justiça no Arraiá do Manto

Eles é dono dos curso que faz gente crescê

Faz dotô, por isso eles é tudo como Santo

IXXX

O povo pede as benção, de juelhus e tudu

Se eles aprontam, tudu mundu fica mudu

Ningém qué incará os coroné sisudu

Pra num entrá direto pelos canudu

XXX

Diz que contá tudo num adianta

Nem as otoridade qué investigá

As güela dos caipira se incanta

Se nem a dona justa qué jurgá

XXXI

E inquantu tudu issu acuntessi

O treinadô Felizbertu aproveita

Meus Deus se o mundo soubessi

Que naquele time tudo se ajeita

XXXII

Nem mesmo das letra, os dotô

Que imprimi os mais forte jorná

Essa briga, tumbém nun comprô

Tem muito dinheru? Dexa pra lá!

XXXVIII

Como pode um time dessis dizê

Que qué os profissionais formá

Se deixa um treinadô issu fazê

Com as criança pra lá e pra cá?

IXL

Será que nunca tiveram filhu, eles?

É o que pensa os moradô do Arraiá

E pra dizê issu bem nas fuça deles

Ninguém tem coragem de desabafá!

XL

Dizem que o povo lá vive tudo rezandu

Pra que Deus venha suas prece ouvir

E faça arguém de pudê agonizandu

Dizê pros dotô que manda, intervir

XLI

Porque é triste vê aquelas criança

Iludidas com tanta farsa esperança

Sê usada por um treinadô abusado

E num passa de um grande safado

XLII

Que fabrica uma grande fulia

Atraindo as criança pra orgia

Sua maloca nuca fica vazia

Diz que o nome é pedofilia

XLIII

Êitcha nominho esse, ingraçadu!

Nem pareci que esconde no jeitu

Os ato dum treinadô desgraçadu

Que arrasta os atretinha pro leitu

XLIV

Mas no campu, treinadô vira machu

Diz que é pra fazê sossegá os fachu

E as criança cheias de tanto medo

Vira vítimas no seu grande enredo

XLV

E um caipira só fica a perguntá

Quando é que arguém vai fazê

Essas coisa que aconteci por lá

Um dia pra sempre desaparecê?

XLVI

Pra mostrá que o povo tem lei

Que funciona pra todo mundo

Se ficá dessi jeitu, eu num sei

Inté pareci buracu sem fundu

XLVII

Tem que argum dia naquele lugá

Conhecido como Arraiá do Manto

Que fica bem lá no meio do Litorá

Mostrá tudu tumbém por encanto

XLVIII

Em vez de fazê as verdade sumi

Como hoje lá aconteci com tudu

E no time Vila Biru fazê surgi

A Justiça, no lugar dos mudu!

IL

E mostrá para toda aquela genti

Que inda existe arguém decenti

Que defende inté os discontenti

Quandu sabe qui eles é inocenti

L

Então o povo vai acreditá

Que já existe argum lugá

Onde se argém quizé errá

Tumbém vai tê que pagá!

LI

Di repenti minha mãe me acordô

Disse: Filho deixa de tanto sonhá!

Inquanto ocê dorme, a lida ficô

Sai da cama e vê si vai trabaiá!

LII

Acordado eu disse: Mãe, obrigadu!

Eu sonhei c’um cabra bem safadu

Tô feliz com esse sonhu acabadu

Como é bão tê ocê ao meu ladu!

Heraldo Laqe

www.hlage.com.br

Em 16 de janeiro de 2005 – 22:36 h.