Desabafo

1

Como vou pedir à nação brasileira

Que ela deve e precisa ser honesta

Se da turma que governa ninguém presta

Que são tudo mergulhado em roubalheira?

Mas parece Lampião com a cabroeira

Que matava e saqueava no sertão

Muitos dizem que ele tinha razão...

E agora vêm os nossos governantes

Trapaceiros, mentirosos, arrogantes

Com a alma apodrecida de ambição.

2

Nos palanques têm discursos inflamados

Que combatem a pobreza e a miséria

Que a luta em prol do povo é coisa séria

Que ao povo pobre serão dedicados

E assim muitos pobres enganados

Depositam nestes homens confiança

Apagando sua fome da lembrança

Acreditam que chegou o seu Messias

Mas só duram seus sonhos poucos dias

Não demora, logo acaba a esperança.

3

Na escola, na cantina, impera a fome

Do aluno que mal tem o que comer

Pois em casa, sem comida pra fazer

A mão manda o filho à escola ver se come

É um sem-teto, um sem-futuro, um sem-nome

Por um pouco de pão faz uma briga

Suas tripas coçando feito urtiga

Mas há grana pra comprar sua merenda!

Mas com ela, bem distante, na fazenda,

O político corrupto enche a barriga.

4

A fraqueza na criança desnutrida

Logo bate e a coitada passa mal

Corre o pai, leva o filho ao hospital

Pra ter a saúde restituída

Ao chegar, lá não encontra saída

E o coitado do pai se desilude

Só lhe resta a paciência, esta virtude,

Que lhe acalma, e vai pra casa desolado

Mas o corrupto está lá, despreocupado,

Bem tranquilo com seu plano de saúde.

5

Chega em casa, a criança com calor

O suor escorrendo no seu peito

E a mãe a coloca no seu leito

Que nem mesmo tem um ventilador

Pois não pode pagar o tal valor

Pelo parco conforto a ser usado

Passa a noite no seu quarto abafado

Pois não pode pagar a energia

Enquanto isso o corrupto se alivia

Em seu quarto com seu ar-condicionado.

6

E no sábado, que é dia de ir à feira

O pobre sai meio desconfiado

Pois já sabe que tem de deixar fiado

Se quiser trazer pra casa uma besteira

Fica em casa a mulher na choradeira

Dizendo: Falta tudo; ó que peleja!

É a vontade de Deus! Que assim seja!

Na panela um feijão com água e sal

Mas o político corrupto em seu quintal

Tem piscina, tem churrasco e tem cerveja.

7

E o pobre em sua humilde casinha

No dia que sonha em trocar de piso

Já sabe que muito esforço é preciso

Se quiser melhorar uma coisinha

A cerâmica não é de primeira linha

Se conforma com uma coisa de terceira

E o corrupto troca até a casa inteira

Por uma casa bem maior – uma mansão

Que ganhou na falsa licitação

De um riquíssimo dono de empreiteira.

8

E assim, por aqui passam-se os anos

Mergulhados nesta tal corrupção

Mas tão logo chega outra eleição

Todo o roubo fica debaixo dos panos

E então começam novos enganos

Pois depressa entra em cena um mercenário

Com seus fabulosos contos do vigário

Com sua lábia bonita e sedutora

E outra vez a classe trabalhadora

Num quadriênio sofre novos desenganos.

9

Mas o povo precisar se informar

Dos deveres e também de seus direitos

Para quando seus políticos forem eleitos

Irem a eles e seus direitos cobrar

Este povo também precisa estudar

Pra sair deste mundo lamacento

Quem não sabe é que nem folha no vento

Voa solto, nem sabe onde vai cair

Neste mundo, quem quiser evoluir

Que estude e busque conhecimento.

10

Meus primeiros versos eu vou refazer

Vou pedir à nação que seja honesta

Desta turma que governa ninguém presta

Isso eu sei. Eu só queria debater.

Como eles, meu povo, não queira ser

E não venda sua honra por dinheiro

Num adianta comprar o mundo inteiro

Se ao lado seu próximo passa fome

Seja honesto, fiel, honre seu nome

Para que repouse em paz no travesseiro.

João Félix
Enviado por João Félix em 07/01/2018
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