As presepadas do Chico Vicente

A Deus pai do céu

Peço graças e inspiração

E a quem me escutar

Peço lhe toda atenção

Para viajar comigo

No mundo da imaginação

Vou contar uma história

Que ouvi meu avô contar

De um tal Chico Vicente

Safado pra danar

Dizem que até mesmo o cão

Ele foi capaz de enganar

Chico nasceu em Itarema

No interior do Brasil

Ele era mesmo descarado

Igual nunca se viu

Foi o caboclo mais malandro

Que nesse País já existiu

Chico filho único

De Bastiana e Valdemar

Sempre foi muito mimado

Antes mesmo de andar

E quando ainda criança

Começou a se danar

Com dois anos de idade

Chico começou a ser safado

Ele dormia durante o dia

E passava a noite acordado

Se fazia de doente

Só pra ser bem cuidado

Chico aprontava bastante

Sempre todo dia

Brechava as mulheres tomando banho

Roubava, enganava e mentia

Dava rasteira em aleijado

Tudo isso ele fazia

Certo dia os pais do chico

Saíram para passear

Mas quando chegaram do passeio

Não conseguiram acreditar

Chico tinha colocado fogo na casa

E tinha fugido de lá

Seus pais ficaram preocupados

Sem saberem o acontecido

Eles até pensavam

Que chico tinha morrido

Mas não era isso

O safado estava escondido

Assim o tempo ia passando

Mas o Chico não tinha jeito

Bater não adiantava

Também não é direto

O menino era danado demais

Cheio de defeito

Em casa Chico pintava o set

Na escola ele causava horrores

Batia nos colegas

Cuspia nos professores

Quem tentasse lhe impedir

Sofria com as dores

Outro dia na sala de aula

Chico inventou de brigar

Surrou três dos seus colegas

O professor foi tentar separar

Levou uma pedrada no olho

Ficou dois dias sem enxergar

Chico era mesmo presepeiro

Gostava de aprontar

Aprontava uma aqui

Aprontava outra acolá

Ele fazia e desfazia

Depois ia gargalhar

Certa vez Chico chegou em casa

E assim foi dizendo

Mamãe vamos logo

Vovó está quase morrendo

Sai de lá agora

A velha tá toda se tremendo

Sua mãe saiu correndo

Chegando lá viu a situação

A velha dentro de um saco

Amarrada de pé e mão

Sem saia e sem blusa

Era feia a esculhambação

Chico fazia dessas coisas

Agia sem pensar

Podia ser quem fosse

Ele não ia imaginar

Quando ele bolava um plano

Ninguém conseguia lhe parar

Certo dia Chico foi a feira

Vejam só o que ele fez

Pegou tudo que queria

Como se fosse um bom freguês

Depois saiu correndo

Com tamanha rapidez

Três caboclos saíram correndo atrás dele

Para pegaram o safado

Mais o menino era bom na perna

E não teve resultado

Os três se perderam pelo caminho

E o chico já estava em casa sossegado

Assim feito folha ao vento

O tempo se passou

E aquele menino traquino

Em um homem se transformou

Mas as suas traquinagens

Com gosto continuou

Com dezoito anos de idade

Chico arrumou a primeira namorada

Ela tinha uma perna murcha

E a barriga inchada

Mas para um homem apaixonado

Isso não é defeito de nada

Ela era Filomena

Uma criatura show

Feia da cabeça aos pés

Mas Chico não notou

Ele ficou com ela um bom tempo

Depois se separou

Por essa mulher

Chico parecia mesmo apaixonado

Mas o final de tudo

Eu digo o resultado

Ele abandonou a coitado

Com cinco menino de lado

Depois desse episódio

Muita gente pensava

Agora o Chico se ajeita

Mas não adiantava

Chico não tinha jeito

Ele só aprontava

Outro dia ele foi em um casamento

Que nem tinha sido convidado

Foi o primeiro a chegar

Ficou lá bem sentado

Só de olho na comida

Com um saco de lado

Chico já estava de plano feito

E quando o povo se descuidou

Ele foi até a cozinha

E lá ele aprontou

Encheu o saco dele de comida

O restante ele salgou

Quando deram falta do Chico

Já não tinha jeito

Chico estava longe dali

O estrago já estava feito

Vinte homens saíram a sua procura

Mas nem sinal do sujeito

O Chico estava no lagamar

Parecendo uma baleia

Se achando todo feliz

De pança cheia

Ele comeu tanto nesse dia

Que a coisa ficou feia

Deu nele uma dor de barriga

Com um falta de ar

O nego pulava gemendo

Mas não conseguia obrar

Ele bebeu dois litros de óleo

O resultado você consegue imaginar

Alguns dias depois

Chico já estava recuperado

Sem nenhum centavo no bolso

Ele se fez de aleijado

Foi pra porta do banco

Pedir algum trocado

Nessa o mala não se deu bem

Foi logo reconhecido

Não adquiriu quase nada

Só algum centavo perdido

Teve então que ir trabalhar

Para poder ficar garantido

Assim chico arrumou o primeiro emprego

Mas não teve muita demora

Foi trabalhar de garçom

No bar da dona Aurora

E no primeiro dia de trabalho

Foi mandado embora

Chico não tinha jeito

Teve que aprontar

Arrumou confusão com os clientes

E alisou o caixa do bar

Depois encheu a cara de cachaça

E danou-se a brigar

Chico bateu e apanhou

Foi feia a confusão

Cachaça, cerveja e vinho

Fizeram lagoa no chão

Foi preciso chamar a polícia

Para poder acalmar a situação

Quando a polícia chegou

Acreditem minha gente

Chico o causador de tudo

Se fez de inocente

Pediu ajuda ao delegado

Dizendo que estava doente

O delegado foi na dele

Chamou a ambulância de plantão

Depois nem quis saber

A causa de tanta confusão

Dona Aurora coitada

Foi quem ficou na mão

Chico sem nenhuma doença

No hospital não fez demora

Ele estava tão apressado

Quem nem pensou naquela hora

Saiu correndo nu pelas as ruas

Com os documentos de fora

Chamaram logo a polícia

Para pegarem o tarado

Chico tentou se explicar

Mas não teve resultado

Ele passou três dias

Vendo o sol nascer quadrado

Chico fazia dessas coisas

Mas ninguém tinha raiva dele

Alguma coisa de errado que aparecia

Colocavam a culpa nele

Por que para fazer safadeza

Era mesmo com ele

Certa noite Chico foi a igreja

Coisa que não acontecia

Levava uma bíblia na mão

Rezando a ave Maria

Se milagres acontecem

Aconteceu naquele dia

Chico ficou lá bem sentado

Começou logo a gemer

O padre celebrando a missa

Começou aquele fuzuê

Chico soltou um cheiroso

Colocou todo mundo pra correr

Outro dia Chico fez uma

Que não deu para acreditar

O traste se fez de morto

Até na hora de se enterrar

E o que deu tudo isso

Vou agora falar

Certa manhã Chico amanheceu

Sem respirar e embranquecido

Seus familiares se preocuparam

Sem saberem o acontecido

A notícia logo se espalhou

Que Chico Vicente tinha morrido

Assim foram centenas de pessoas

Para verem o Chico morto

Colocaram ele dentro de um caixão

Sem nenhum conforto

As horas iam se passando

E o safado lá feito de morto

Então chegava a hora

Do Chico ser enterrado

O caixão já estava na cova

Estava todo preparado

Quando Chico mexeu com um dedo

Ficou todo mundo assustado

Chico planejou tudo

Até a falsa morte

Dormiu profundamente trinta horas

Ao tomar um remédio bem forte

Chico quase foi enterrado vivo

Contou com a sorte

Quando Chico se mexeu

Todo mundo se assustou

O morto está vivo

Jubileu foi quem falou

O pessoal todo em pânico

Ai nada mais prestou

O padre que estava lá

Derrubou a bíblia no chão

O delegado foi o primeiro a correr

Chamando o seu camburão

O prefeito coitado, desmaiou

Quando viu a tal assombração

Pobre de um aleijado

Que tinha uma perna quebrada

Jogou a muleta fora

E saiu em disparada

O Antônio se abraçou com o João

Pensando que era a sua namorada

Uma mulher que estava amamentando

Soltou a criança e saiu correndo

Zé Feijão que dizia ser corajoso

Ficou todo se tremendo

Por que ninguém acreditava

No que estava acontecendo

O medo foi tão grande

Que causou uma confusão total

Tinha gente que pedia socorro

Outros que passavam mal

E Chico mais vivo do nunca

Sorria da besteira do pessoal

Dois dias depois

Fim de toda confusão

As pessoas conseguiram perceber

Que era só uma armação

Mais uma do Chico

Que não tinha coração

O tempo passou como as nuvens

E Chico envelheceu

Deixou de fazer presepadas

Depois que adoeceu

E assim aos cento e vinte anos

Chico Vicente então morreu

Chico fez muitas presepadas

No Itarema inteiro

Ao morrer deixou saudade

Como um bom presepeiro

Hoje só resta lembranças

Daquele homem brasileiro

Foram muitas as histórias do Chico

Mil e uma ouvi falar

Só contei algumas

Que consegui me lembrar

As outras depois eu conto

Quando a gente se encontrar

As presepadas do Chico Vicente

Entre versos eu contei

Baseada em fatos reais

O resto eu inventei

Peço desculpas a todos

Se acaso não agradei

Essa literatura de cordel

Fiz com carinho e amor

Pela a tua honrosa paciência

Te agradeço leitor

Tenha sempre em mente

As rimas do poeta pensador