06 - AS SOMBRAS DE 1954

06 AS SO pulsar de um coração

COIMBRA: RDAH 2812172000

01 Do ano cinquenta e quatro

Tenho muito que escrever

Ano-em que Getúlio Vargas

Foi em tal tempo morrer

Além da grave notícia

Outras estavam na lista

Coisas de estarrecer...

02 Também foi naquele ano

Que conheci um pintor

Que foi pintar a matriz

Com afrescos de louvor

Eu lavava seus pincéis

Pra ganhar quinhentos reis

Seu Cândido era doador

03 Portinari era conhecido

Em Brodosqui e região

Onde o padre, frei Luiz

Teve estudo e aptidão

Conhecia o pintor

De quem teve o labor

Nas pinturas do saguão

04 Eu tinha apenas dez anos

Mas gostava de ficar

Vendo seu Cândido Torquato

Os belos quadros pintar

Foram apenas dois meses

Porém tive minhas vezes

De algum trocado ganhar

05 Da década de cinquenta

Aquele-ano foi marcante

A igreja ficou bonita

Pelas pinturas constantes

Portinari as assinava

Mas ninguém admirava

Não era muito importante

06 Outros fatos aconteceram

No pequeno arraial

Que em dias de políticas

Ficava sensacional

Cada um puxava a brasa

Pra sardinha que assava

Como sendo a maioral

07 Me lembro que em agosto

Bem no dia vinte e quatro

O presidente Getúlio

Cometeu-o terrível ato

Com-a morte do presidente

Tomou lugar, seu suplente

Pra comandar o estado

08 Aquele ano passou

Sob uma escura sombra

Pois toda notícia era

Como se fosse uma onda

Lembro que o repórter ESSO

Noticiava em excesso

Falando daquela bomba

09 O meu pai naqueles dias

Tocava uma empreitada

Numa tal fazenda furnas

Fazendo-uma desmatada

Da turma toda, contava

Só com um que trabalhava

Numa tarefa ajustada

10 Tudo por que a notícia

Da morte do presidente

Desbalanceou o Brasil

Por um terror eminente

Que alguma ideologia

No país renascerá

Com um fator diferente

11 Ao final daquele ano

Ainda tenho a lembrança

De uma forte saraivada

De gelo em abundância

Das árvores do jardim

Rosas e flores jasmins

Não sobraram nem herança

12 Enfim terminou o ano

E veio outro janeiro

E na continuidade

Logo chegou fevereiro

Já em cinquenta e cinco

Março chegou sucinto

Mais um ano em meu viveiro