09 A SAUDADE E A POBREZA 1957 O pulsar de um coração

Isolino Coimbra Oliveira (Luzirmil)

RDAH 3112171133

01 Entrei em cinquenta e sete

Tendo indisposição

Já não fui mais em escola

Meu pai mudou de noção

Ao invés de empreiteiro

Combinou com um fazendeiro

Para fazer plantação

02 Em umas terras distantes

Doze quilômetros do arraial

Fez com alguns companheiros

Um desmatamento tal

Para cultivar batata

Que na época era a nata

Da produção nacional

03 Para tal empreendimento

Eu também fui alistado

Por três meses trabalhamos

Com foices e com machados

Eu contava com treze anos

Mas o batente ia dando

Para ver os resultados

04 Eu tinha melancolia

Como uma triste ventura

A saudade era o mal

Que me trazia amargura

Me lembrava da menina

Por quem tive uma declina

Por ela ter alma pura

05 Nas terras para o plantio

Construímos um ranchão

Para nos servir de abrigo

E ponto de habitação

Na lida de cozinheiro

Eu era sempre o primeiro

Na tal movimentação

06 Por dois anos estivemos

Naquelas lidas do campo

Muita luta nós tivemos

Tendo um certo desencanto

Lucro nenhum auferiu

Por fim meu pai desistiu

E partimos pra outro canto

07 Naqueles tempos de lutas

Muito a pé nós deslocamos

Nas madrugadas das segundas

E nas sextas retornando

Do arraial no roçado

Doze quilômetros andados

Era o martírio se dando

08 Os serviços das lavouras

Sempre eram entrelaçados

Com trabalhos em garimpos

Pra tentar sair do fado

Mas pra achar um diamante

Era o fator mais distante

Difícil de ser achado

09 Aos trancos e barrancos

Passarmos aquele ano

De janeiro a dezembro

Com trabalho e desengano

Muita batata perdemos

Pois nos dias que colhemos

Ninguém estava comprando

10 Daqueles dias passados

Hoje me ponho a pensar

Quanta luta e caminhada

Sem nada a resultar

Foram dois anos de vida

De amargura sentida

Que nem gosto de lembrar

11 O pulsar do meu coração

Em todo o cinquenta e sete

Se deu em muitos lugares

Nas matas e nas estepes

Muitas vezes em noite alta

De conforto tendo falta

O meu pensar tinha stresse

12 As lembranças que eu tenho

Daquele ano vivido

Ficaram como um manto

Pelo tempo envelhecido

A saudade é a pobreza

Foi a marca da tristeza

No meu viver padecido!