Versos tirados de uma infancia simples e feliz,  vivida na região do inhamuns, sertão do Estado do Ceara. Uma fonte de inspiração nosso querido sertão.  


MOTE:
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia.      
(ABBAACCDDC)

(01)
Quando o dia clareava
A gente já estava de pé
Mamãe passando café
Nós no quarto se arrumava
A merenda nós tomava
E para a escola a gente ia
De mamãe se despedia
Mas antes dava a benção
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
(02)
Papai sungava a calça
Num saco botava a traia
No jumento uma cangaia
Apertava bem sua alça
E pendurava a cabaça
Onde levava agua fria
Pra tomar durante o dia
E  suportar o sequidão
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (03)
Mamãe abria a janela
Pra ver o tempo lá fora
Viu a noite indo embora
Deixando resta amarela
Enfeitando a casa dela
E depois desaparecia
Era o sol que já nascia
Clareando a imensidão
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
(04)
Ainda sobre a janela
Mae dava milho pra galinhas
De lá chamava a vizinha
Para vim pra casa dela
Comiam rapa da panela
Depois pegava uma bacia
Iam para roça e trazia
Frutas, milho e feijão
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
(05)
As criação escramuçando
Lambendo água do orvalho
Comendo a folha do galho             
Que tinha agua pingando
Era a natureza mostrando
A riqueza que existia
Ao nascer de cada dia
Sem o homem por a mão
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (06)
Vovô em pé na calçada
Um a um cumprimentando
Quem por ali ia passando
Vez em quando uma risada
Era uma prosa bem contada
Por quem dali já partia
Contava a prosa e saia
Seguindo a sua direção
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (07)
Mae o almoço a preparar
Nós chegando da escola
Pendurava as sacola
Com os livros de estudar
Papai acaba de chegar
Do jumento ele descia
Para todos ele dizia
Já é hora da refeição
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (08)
Nuvens no céu brilhando
O sol quente e  ardente
A terra seca e cedente
Agua do poço escaldando
As rezes na beira berrando
Com sede de agua fria
Sertanejo nessa agonia
Não ver uma solução
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (09)
A nuvem escondeu o sol
O calor ficou mais brando
No quintal nós brincando
No varal balança o lençol
Papai saindo do paiol
Trazendo milho na cuia
A traz das criação ele ia
Pra fazer a apartação
Aquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
(10) 
O sertão se movimentava
Quem foi estava voltando
Quem ficou tava esperando
Quem por ali se aproximava
Até quem não se esperava
De surpresa aparecia
Só o sol se escondia
Dando lugar à escuridão
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (11)         
Neste casarão de vovô
Todos os vão eu conhecia
Nele eu entrava e eu saia
Sem dizer pra onde vou
Mamãe nunca se importou
Porque papai já sabia
E para vovô era alegria
A gente tomar a benção
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (12)
Vovô era um regente
E ajudava todo um povo
Seja o velho seja o novo
Amigo vizinho e parente
Ele sempre táva presente
Para ensinar o que sabia
E em tudo que ele fazia
Tinha o exemplo como lição
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (13)
Vovô puxava o caçoar
Para o meio do salão
Todos sentavam no chão
Para o milho debulhar
Nem via o tempo passar
Entre trabalho e alegria
Era mais um fim de dia
Que terminava em união
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (14)
O sertão se iluminava
À luz de uma lamparina
No sorriso da menina
Que à noite se ajuntava
Nosso sorriso alegrava
Nosso fogo se acedia
Mas a lua se oferecia
Para não haver devasidão
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia
 (15)     
Nestes versos retratei
Um pouco do que vivi
Do lugar que eu nasci
Aos caminhos que andei
Para os filhos já ensinei
As travas que nele havia
Se a noite nos adormecia
O novo dia era renovação
Naquela hora no sertão
Muita coisa acontecia