CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

CAMPO DE CONCENTRAÇÃO

FRED COELHO / 2018

Foi no século XX

Na cidade de Senador

Que o governo vigente

O campo de concentração criou

A capital e a riqueza

Queriam a migração evitar

Criando os currais

Pró ruricola ficar lá

Pro mode não ter perigo

Dos flagelados se estalar

E ter uma certeza

Que fazendo o abrigo

Deles bem longe estar

Era um espaço insalubre

Cercado e guardado por capangas

Fome, desprezo e sede

Brotavam naquelas bandas

Assim com Senador

Mais seis foram criados

Baturité, Quixeramobim

Farias Brito e Otávio Bonfim

Na Beira do Patu

E pasme, até no Pirambu

Por todo o Ceará espalhado

Causando comoção e dor

Os flagelados ali colocados

Eram verdadeiros escravos

De lá não podiam serem deslocados

Somente se fosse pra trabalhar pro estado

Ante a penúria e a fome

O sertanejo do hábitat some

Migrando em busca de ajuda

Os trilhos são referências

Do caminho à seguir

Pra encontrar quem acuda

Diante de sua demência

Sem saber pra onde ir

A fome e a tristeza

Rondando suas vidas

Geravam suas partidas

Em busca de "fortaleza"

Ali no campo engaiolados

Mulheres,velhos e crianças

Como bandidos tratados

Sem vida, sem esperança

Só Deus à seu lado

Quem espera "sempre" alcança

O grito que ali clama

Do campo de concentração

Mostra a condição sub-humana

Dos filhos dessa nação

A fome rondava no campo

A morte todo dia anuncia

Os corpos nas valas eram tantos

Que a visão dava agonia

Os urubus em todo canto

Os cachorros se saciam

Era a distância que queria

A burguesia da capital

O retirante e sua cria

Bem longe, preso no cural

Os comandantes do campo

Recebiam o dinheiro

Pra comida comprar

Mais uma coisa primeiro

Eles que não eram santo

Só queriam enricar

Tamanho era o sofrimento

No campo de concentração

Pois a todo momento

Partia de la um irmão

O que os ricos de verdade

Queriam com aquela situação

Era dar fim naqueles seres

Para que enfim eles

Presos nos campos de concentração

Não adentrasem às cidades

Mortos foram entulhados

Nas barreiras do Patu

Familias inteiras castradas

Nos beirais do banabuiu

Suas vestes eram sacos

Que traziam o feijão

Sua cama eram trapos

Espalhados pelos chãos

Não tinham com ninguém contacto

No campo de concentração

Todos os dias morria ser

Velhos, mulheres e crianças

Que navegavam na esperança

De um novo amanhecer

Aquele povo não tinha alma

Eram espécie sub-humana

Estavam ali pra morrer

Não tinham o que fazer

Pois a vela não tinha chama

Nem seu lamento nunca cala

Como Deus permitia?

Tamanha maldade

Pois todos eram crias

De sua santidade

O cheiro do campo

Anunciava a desgraça

Do povo sem futuro

Filhos da seca que nunca passa

Dos lamentos em prantos

Sem luzes, no escuro

Quem ficasse doente

Ou quebrasse uma perna

Podia ficar ciente

Vai encontrar a vida eterna

Muitos ficaram loucos

Com tamanha barbaria

Sobreviventes tem pouco

Pra contar a história

Ninguem de lá foi solto

Isso é um fato notório

O sertão chorava todos os dias

Com a situação

Daquela imensa covardia

Que era o campo de concentração

Campo de concentração da desgraça

Comandada pelo estado

Tempo ruim que não passa

Da lembrança estampado

Feito de trapaças

Do meu irmão do lado

Depois de tantos anos

Passados da carnificina

Traçados daqueles planos

As lembranças nos atinas

Passando nas ruínas

Do campo de concentração

O choro daquela menina

Ecoa no paredão

Pra me lembrar daquela sina

Que lá sofreu meu irmão

Naquela situação

Que o sertanejo passava

Aquilo não era nação

Ali a dignidade não se encontrava

O povo ainda vai lá rezar

Por todas almas penadas

Levam velas no altar

Das ruínas encontradas

Dos ex-votos deixados

Para sempre dele se lembrar

Romeiros vem de todo canto

Pra os mortos cultuar

Do irmão flagelado

Que um dia esteve lá

Na prisão habilitando

Até a morte chegar

De noite naquele lugar

Onde a maldade venceu

Almas penadas à vagar

Na noite que escureceu

Que aqueles tempos escuros

Nos tragam uma lição

Que a seca de 32 deixou

Que todo humano em apuros

Tem direito ao futuro

Porque somos todos irmãos.

Fred Coelho
Enviado por Fred Coelho em 11/04/2018
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