Cordel (A História do Amor)

Cordel (A História do Amor)

Autoria: Aberio Christe

Vou contar aqui, preste atenção

A história do amor

Aconteceu nos primórdios

Quando Deus, o criador

Fez céu, terra e fez tudo

E viu que era bom, o nosso Senhor.

Ele fez a lua e as estrelas

Também o sol pôs a iluminar

Para que houvesse escurinho

E a luz voltasse a brilhar

Separou a noite do dia

Em uma maestria sem par.

Deus tudo criou com esmero

A fauna e a flora ele fez

As montanhas e as colinas

Tudo de uma só vez

Cada qual em seu lugar

Com perfeição e sensatez.

As águas ele separou

Pôs a salgada no mar

E a doce no rio

Cada peixe em seu lugar

Além de outros bichos

Nessas águas a nadar.

Mas depois de tudo bonito

Ainda havia algo por fazer

Homem e mulher ele criou

Para com ele mesmo parecer

E viu que tudo era muito bom

Nada do que fez iria desfazer.

E agora alguém poderia perguntar

Porque criou todo o universo

O Deus poderoso e eterno?

Respondo ainda neste verso

Por amor, somente por amor

O mesmo amor tão controverso.

E se alguém ainda insistir

Em fazer questionamento

Sobre como pode ser isto

Um contraditório sentimento

Dar origem a todas as coisas?

Esclareço o seu pensamento.

Diz o evangelista João

Que o amor é o próprio Deus

O artesão e a obra prima

Que dá forma a todos os seus

É a essência, a existência

E até a morte, como diz São Mateus.

Mas por que o ser humano

Rejeita o amor e mesmo a vida

Renega sua própria razão

E como uma lâmpada escondida

Perde a decência, a moral

E o sentido de existir ele olvida?

Porém, para esta questão

Não tenho resposta pronta

O que posso lhe transmitir

É o que São João nos conta

Dotado de liberdade para escolher

O Homem livre a Deus afronta.

Em vez da luz escolhe as trevas

Em vez do amor escolhe o ódio

Em vez do bem escolhe o mal

Em vez da cruz escolhe o pódio

Em vez da vida escolhe a morte

E assim se inicia mais um episódio.

O verbo amar se faz carne

E vem habitar entre a gente

Pregando, ensinando e curando

A humanidade doente

Fazendo os cegos enxergar

E perdoando o penitente.

Mas a história tem seu reverso

O ódio ferido se inflama

E contra o amor encarnado

Um plano maléfico trama

Forjar uma condenação

Do amor, destruir sua fama.

E ele recebe a pena capital

Torturado e pregado na cruz

Humilhado e desprezado

Morre o amor chamado Jesus

O mal parece derrotar o bem

O breu consegue apagar a luz.

Mas o amor não pode morrer

Ele pertence à eternidade

E mesmo que pareça destruído

Eis aqui uma ambiguidade

Pois aquele que mais padece

Mais revela fecundidade

E o Amor ressuscitou

Ressurgiu mais forte ainda

Como uma flor em jardim

Perfumada e muito linda

Frágil e muito humilde

Numa missão que nunca finda.

O próprio amor nos revelou

O próprio Deus disse certo dia

Eu estarei com as pessoas boas

Tirando a tristeza e dando alegria

Em todo tempo e momento

Até a eternidade que principia.

Aberio Christe