A HERANÇA DO BELO

Morreu o Belo de velho

Morreu de morte morrida

Se agarrou como pode a vida

Pra quem já passou dos cem

Não tem jeito a morte vem

E o pobre belo morreu

Na pobreza em que viveu

Duro sem nenhum vintém

Enterraram o Belo coitado

Num caixão de madeira usada

De uma madeira reciclada

De tábuas de caixaria

O choro começaria

Quando vissem o testamento

Era o desapontamento

Era o fim de uma utopia

É que durante o velório

Apareceu muita gente

Se dizendo seus parentes

Mas ninguém os conhecia

Irmão primo tio e tia

Velho moço e até criança

Vieram atrás da herança

Coisa que não existia

Pois tudo que o Belo deixou

Não valia um tostão furado

Um velho tucano empalhado

Um socó e um biguá

Um couro de tamanduá

Um velho casco de tatu

Um apito de inhambu

Um bodoque de Quatiguá

Um guiso de cascavel

Um casco de jabuti

uma presa de javali

com um pelego pendurado

Um periá defumado

alguns milhos de pipoca

uns bijus de tapioca

E um papagaio calado

Era o fim de mais um sonho

Era o fim de uma esperança

Sonharam com essa herança

Mas toda espera foi em vão

Adeus férias de verão

Adeus ao carro importado

Adeus fazenda de gado

Adeus viagens de avião

Por isso amigos um conselho

Corram atrás do prejuízo

Pois ir a luta é preciso

Largue a foice e o martelo

E vá construir seu castelo

Para um dia se acomodar

Senão você vai acabar

Pobre igual os filhos do belo

Pedrão Cordelista
Enviado por Pedrão Cordelista em 28/07/2018
Reeditado em 16/11/2022
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