A HERANÇA DO BELO
Morreu o Belo de velho
Morreu de morte morrida
Se agarrou como pode a vida
Pra quem já passou dos cem
Não tem jeito a morte vem
E o pobre belo morreu
Na pobreza em que viveu
Duro sem nenhum vintém
Enterraram o Belo coitado
Num caixão de madeira usada
De uma madeira reciclada
De tábuas de caixaria
O choro começaria
Quando vissem o testamento
Era o desapontamento
Era o fim de uma utopia
É que durante o velório
Apareceu muita gente
Se dizendo seus parentes
Mas ninguém os conhecia
Irmão primo tio e tia
Velho moço e até criança
Vieram atrás da herança
Coisa que não existia
Pois tudo que o Belo deixou
Não valia um tostão furado
Um velho tucano empalhado
Um socó e um biguá
Um couro de tamanduá
Um velho casco de tatu
Um apito de inhambu
Um bodoque de Quatiguá
Um guiso de cascavel
Um casco de jabuti
uma presa de javali
com um pelego pendurado
Um periá defumado
alguns milhos de pipoca
uns bijus de tapioca
E um papagaio calado
Era o fim de mais um sonho
Era o fim de uma esperança
Sonharam com essa herança
Mas toda espera foi em vão
Adeus férias de verão
Adeus ao carro importado
Adeus fazenda de gado
Adeus viagens de avião
Por isso amigos um conselho
Corram atrás do prejuízo
Pois ir a luta é preciso
Largue a foice e o martelo
E vá construir seu castelo
Para um dia se acomodar
Senão você vai acabar
Pobre igual os filhos do belo