No papo da onça

Topei co'a onça no mato,

A bicha urrou e eu gritei:

Valei-me São Judas Tadeu!

Na hora a gata deu um salto,

Por pouco eu não me borrei!

Tentei correr, mas não deu,

A onça cravou suas garras

No embornal que eu trazia,

E por mais que eu puxava,

Mais perto da onça eu ía.

Oh! Valei-me Santa Maria!

Mas a onça também rezava

E por certo lhe agradecia

Pela graça que alcançava.

Enquanto a onça sacudia,

- E eu firmado na correia-,

Começou uma ventania

Fazendo voltas na areia.

Girando e dando pipoco,

Qual cavalo em carrossel.

Saímos quebrando toco

E fazendo um escarcéu!

Quebramos peroba-rosa,

Maçaranduba e jacarandá.

A bichana era tinhosa,

Não queria me "largá"!

Chegamos nas ribanceiras,

Esfolados que dava dó!

Firmei as minhas perneiras

No enrosco de um cipó.

E igual trompo de piá,

Giramos por cinco dias,

Sem a onça me "sortá"

E sem eu frouxar o nó!

Foram tantos ave-marias,

Que a danada arrefeceu,

E num urro, sem medida,

Pulou na gruta e correu.

Cansadaço de toda "peleia"

Deitei na sombra e dormi.

Da onça eu virei a ceia.

Sonhei que estava no céu

C'os santos todos ao redor.

Foi assim que eu morri!

E parti desta... pra melhor.

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 30/07/2018
Reeditado em 31/07/2018
Código do texto: T6404687
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