À BEIRA-MAR

À BEIRA-MAR

Ritmado em agudo martelo, o galope

Por metro pretende n'um verso onze pés

Mais rimas de décimas postas de viés

E adeuses na beira do mar onde eu tope

O sábio Ulisses co'o grande ciclope:

Partindo com pressa d'aquele lugar,

Contém Polifemo depois de o cegar,

E brada 'inda impávido contra o homicida

Dos crimes havidos n'essa ilha perdida,

Enquanto s'evade da beira do mar.

Aquele, porém, de Neptuno era filho

E evoca em desgraça desditas sem fim

D'encontro aos helenos com tempo ruim

Os mares extremos fechando o seu trilho

E estrelas no céu renegando-lhes brilho

Até que, perdidos, se veem naufragar

E Ulisses sozinho ali vindo chegar:

Saúda, entretanto, às gaivotas pairando

E as ondas insãs ao quebrar quando em quando

S'espraiam em espumas na beira do mar.

Chegara estrangeiro na própria cidade,

Oculto d'aqueles que lhe andam em roda

Da esposa tão só que jamais se incomoda

Da espera do rei cuja imensa saudade

Tecendo ao tear vê passar sua idade

Refém de mesquinhos comendo manjar

Enquanto conspiram tomar seu lugar

No trono que vago demanda outro rei...

Embora a buscar no arrepio da lei

Um novo senhor para a beira do mar!

Consuma a vingança e a vontade dos deuses

Quem fora escolhido p'ra ser vencedor!

Conquiste da glória o mais alto penhor

Deixando na beira do mar os adeuses!

No mais, os mercados com vis enfiteuses

Arrendem as naus para além navegar

E busquem colônias por onde habitar

Nas terras distantes que o nauta pisou

E cheguem tão longe quanto ele chegou

Nas praias extremas da beira do mar.

Peruíbe - 24 07 2018