Bons Tempos Aqueles - (reciclagem by ACAS)

Parte I

Eu sou dos “tempos dos affonsinhos”

Era um tempo distante, cheio de chamarisinhos.

Também sou do “tempo do onça”,

...”Ou você mata a onça ou ela te avonça ...”.

À época, amarrava-se cachorro com lingüiça;

Ele sem saber o quê era isso, morria de medo...

Sou do tempo em que, aos domingos, se ia à missa;

Mesmo que a contragosto e cheio de preguiça... .

Sou do tempo de Antanho,

Tão velho que não se tem certeza do tamanho... .

Tenho lembranças mui bacanas

Letreiros das Casas Pernambucanas

Nas tábuas das porteiras e mata-burros até

Das estradas vicinais das fazendas de café, da região Mogiana.

Lembro o bairro de Pinheiros, com seus bondes e mercado municipal, Lotado de carroças e de carroceiros, hoje a cidade não fica mais intacta, No lugar do mercado ficou o Largo da Batata.

Lembro busca-pés e rojões,

Lembro do xarope São João!

(que combate à tosse, à bronquite e à rouquidão)

Venho do tempo do confete e serpentina

Nas festas de Carnaval.

Sou do tempo do lançamento

Do Alka-Seltzer e do Sonrisal

Sou do tempo em que o telefone era preto

e a geladeira era branca, emoldurada por um belo Pinguim!

Sou do tempo em que se confiava que a penicilina

curava as doenças venéreas dos meninos e das meninas.

Sou do tempo das Rádios Mayrinque Veiga e Nacional e seus artistas, comediantes e artistas natos, do Chico Anísio, rapazinho de talento e sorte, com seu programa “Este Norte é de Morte”. Lembro dos programas César Ladeira e Paulo Gracindo, do “Edifício Balança , mas não Cai” e do “Miss Campeonato”; sou do tempo do lança perfume Rhodouro no Carnaval,

E ainda dos calouros da “Hora do Pato”.

Sou do tempo em que "pó", era o mesmo que poeira,

E nunca se tapava o sol com a peneira...

Sou do tempo do terno de casimira risca de giz, ou de nycron,

Que não amarrota e não perde o vinco. Sou do tempo de então

Em que bastava Ser um rapaz direito para ter crédito “n´A Exposição"

Sou do tempo da inauguração do Estádio do Morumbi, com gol do Peixinho (e antes que dúvida aconteça; o gol não foi de cabeça).

Sou do tempo do Dói-Codi, dos tapas

Do “aparelho” da Lapa, da linha dura, do AI-5, da juventude amordaçada, do comigo-ninguém-pode e

Da ditadura envergonhada, sem florir

Quando ninguém lembrava mais de sorrir.

Sou do tempo em que "ficar", era não ir...

Parte II

Sou do tempo da brilhantina, e do perfume “Óleo Dirce”, do tempo em que as crianças pegavam Escarlatina

Do laquê, da Glostora, do Óleo Bourbon, do Gumex.

Naquele tempo o correio não tinha Sedex.

Sou do tempo em que, às vezes, pelo correio vinha um telegrama,

Em que nenhum dos campos de várzea tinham grama.

Sou do tempo em que a polícia,

Perseguia quem não tinha Carteira assinada, nem malícia.

Nunca perseguiam a quem tivesse alguma fama,

E eu não sabia onde ficava Auriflama.

Sou do tempo em que só mulher usava brinco,

Em que as portas não tinham trinco

Que as calças não perdiam o vinco

E o luar furava tetos de zinco,

E que só se dizia "demorou",

Pra quem chegasse atrasado... .

Sou do tempo em que picada, era só na bunda,

Somente se aquela febre fosse profunda...

E, se fosse pequenina,

Tomava injeção de eucaliptina ...

No meu tempo, coca era refrigerante

E todo homem elegante

Abria, para as mulheres, a porta do carro.

Aceitava-se qualquer cigarro

Sem medo de ser um novo fato.

Só o preço podia ser barato

"Bicho" era só o animal.

"Cara", o rosto do pobre mortal...

Sou do tempo do tergal,

Do banlon, da volta ao mundo, do terilene,

Da Emilinha e da Marlene

Da Isaurinha Garcia, que esperava "O Carteiro", todo dia

Sou do tempo em que TV não existia

E que nossa maior cantora era a Ângela Maria.

No mundo musical, Nelson Gonçalves era o sucesso nacional.

Que era ruim o som dos nossos cinemas,

Não se entendia do ator metade dos fonemas,

E Jobim ainda não tinha feito

a “Garota de Ipanema”.

Sou do tempo do Rex Allen e seu cavalo maravilha do cinema; do Durango Kid e do Roy Rogers.

Sou do tempo do mocinho

E do vilão com cara de mau,

Do reclame de fortificante:

Veja ilustre passageiro, esse tipo belo e faceiro que o senhor tem ao seu lado, mas no entanto acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o o Rhun Creosotado.

Me lembro do óleo de fígado de bacalhau...

Sou do tempo do coreto, da praça e da banda,

Dos velhos cigarros Marusca e Yolanda

Vendidos na venda da esquina...

Sou do tempo da estricnina,

Um veneno muito poderoso!

Sou do tempo do leite de magnésia,

Em que o fosfato curava a amnésia.

Sou do tempo do sagu, do Fubá Mimoso,

Do tempo do Mandiopã...

Quando o Hoje parecia não haver Amanhã

Sou do tempo da Maria Sororoca

Que arrebentava sapucaia e pipoca

Sou do tempo da Copa Roca

Que muita gente não viu.

Do progresso tão abrupto

que todo mundo assistiu.

Do tempo em que os políticos,

Já roubavam o nosso Brasil

Porém: Político corrupto,

Era igual rato que sai da toca,

Ora!... Esse, sempre existiu!...

Parte III

Sou do tempo em que se respeitava qualquer alguém

E que bife de pobre era carne de acém

Sou do tempo que ração de cachorro era bofe

E que ninguém sequer sabia a existência de estrogonófe

Sou do tempo do tostão e do vintém,

Da Cibalena, da Instantina e do Veramon

E das revistas "O Cruzeiro e Fon-Fon".

Sou do tempo dos filmes da Lassie, Fury e Rin-tin-tin; do Menino do Circo ;do Homem do Rifle, e do Último dos Mohicanos

E do Papai-Sabe-Tudo(modelo americano)

Sou do tempo das estampas Eucalol, e do fortificante Calcigenol.

Sou do tempo do vovô, do Sal de Uvas Picot.

Sou do tempo da PRK 30, do Lauro Borges e Daniel Guimarães, que ouvíamos à noite e discutíamos, contentes, pelas manhãs.

Sou do tempo do rádio de válvula, tipo capelinha, com três faixas de ondas, dos contos da Carochinha, dos Sobrinhos do Capitão, do Gato Félix e do Almanaque do Tico-Tico.

Sou do tempo da Cafiaspirina,

do Emplasto Sabiá,

do Bálsamo de Benguê... .

Sou do tempo em que se encerava a casa com cera Colmeína ou Parquetina

Das oratórias de Getúlio e Juscelino.

Sou do tempo do óleo de linhaça,

Andei muito na Maria Fumaça,

Entre Cravinhos e Serrana,

E acreditava que tudo era muito bacana.

Sou do tempo da revista Cruzeiro, do Péricles Amigo da Onça e da Raquel de Queirós, tinha tanta gente boa; era um orgulho pra nós!

Eu escrevi com caneta- tinteiro, bonita e incomum,

principalmente se era Parker 51.

Hoje vejo empresários e políticos na cadeia, que pena que já estejam cheias, para engaiolar outros corruptos; Lava-Jato fez um hiato abrupto pra separar o joio do trigo; também não sou tão antigo!

Quero os corruptos na cadeia,

Sou antigo, mas só faço cara feia,

Quando dizem que quase fui garçom da Santa-Ceia.

ACAS-01/12/2018

ACAS
Enviado por ACAS em 01/12/2018
Reeditado em 06/01/2019
Código do texto: T6516349
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