Flor do mormaço.

As flores do jardim dela

Secaram todas em março

Perderam o seu perfume

murcharam com o mormaço

A terra e a semente

Não tendo mais nutriente

Não conseguiram vencer

Ate o bom colibri

Não tendo o que lhe suprir

Fugiu para não morrer.

O que já foi um jardim

Agora é só poeira

Em cada vazo vazio

Uma saudada brejeira

O vento que leve passa

Frio, triste sem graça

Se esmorece nos becos

O sol de fogo inflama

As flores secas na grama

Por cima dos galhos secos.

É triste ver as verbenas

Pelos canteiros caídas

E o carrapicho cruel

Matando as margaridas

Roseiras que foram fartas

Comidas pelas lagartas

Que sem ter pena castiga

O resto de um crisanto

Espalhado em um canto

Cortado pela formiga.

Não tendo mais o carinho

A natureza abandona

As cores vivas das flores

Por não ter mais sua dona

De perto se ver o vulto

Da borboleta de luto

Com um desgosto notório

Pousando sobre a planta

Como uma negra manta

Cobrindo todo velório.

Quem passa pelo jardim

Evita ate de olhar

Vira o rosto se apressa

Para não ver espalhar

O vento na planta murcha

Ressecada feito bucha

Desprezada sem valor

Num lugar já ressequido

Onde já foi colorido

Hoje morre sem ter cor.

Assim também eu estou

Um jardim sem alegria

Um jacinto sem canteiro

Uma caqueira vazia

Sem cheiro e sem beleza

Uma planta de tristeza

Sem água no coração

Secando todo instante

Sem crescer sem ir avante

Seco, fraco sem perdão.

A dona desse jardim

Foi minha flor preferida

Foi a roseira mais bela

Que perfumou minha vida

Porem eu tosco e bruto

Por conta de um insulto

Magoei minha paixão

Que de tristezas sentidas

Teve as pétalas caídas

Fechando o seu botão.

Agora esse jardim

É somente desencanto

Sua dona foi embora

Entre soluço e pranto

Partiu deixando tudo

Ficando meu peito mudo

Tal qual um vil espinheiro

Agora é dor e dor

Ela não é mais a flor

Nem eu o seu jardineiro.

Quem dera te-la de novo

Como um dia já tive

Porque viver desse jeito

Apodrece e não vive

Eu errei fui castigado

Mais porem o meu pecado

Não pode ser o meu fim

Peço a Deus faço clamor

Que traga a minha flor

De volta pro meu jardim.

Quem perde a sua flor

Por conta de uma briga

Sente a dor do veneno

Do espinho da intriga

Tudo passa a ser feio

Pesadelo devaneio

Fica tudo em destroço

E a saudade infame

Mata feito um enxame

De abelhas do remorso.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 10/12/2018
Código do texto: T6523542
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