ANDARILHO DOS VERSOS

Meus estimados amigos,

Conforme já fiz relato,

Nos folhetos de cordel

Tive o primeiro contato

Com rima, verso e cadência.

Foi nos tempos da inocência,

Infância, pra ser exato.

*

Pela memória resgato

Aquelas boas leituras.

Histórias de Lampião,

De João Grilo as aventuras.

Zé Brito, meu pai, comprava,

Eu lia muito e gostava

Das obras e das figuras.

*

Conhecendo as estruturas

Desse estilo popular,

Mais tarde, com quinze anos,

Eu resolvi me arriscar:

Escrevi várias quadrinhas

Tentando deixar nas linhas

O que estava a me inspirar.

*

Sem rotina regular

Por causa da timidez,

Nos anos que se seguiram

Eu quase parei de vez

De praticar poesia.

A vergonha me invadia

E provocava a mudez.

*

Foram tempos de escassez

No tocante à produção.

Retomei depois dos trinta

Novamente a inspiração.

A lembrança se remete

Ao ano dois mil e sete:

Poetizava o Fluzão.

*

O time de coração

Passou a ser decantado

Nos versos de um torcedor,

Sem dúvida, apaixonado.

Lá no Canal Fluminense

Entrava o porto-velhense

Em um mural animado.

*

Ali fui incentivado

A postar as homenagens

Em versos ao Tricolor,

Sua história e personagens.

Consegui, dali pra frente,

Desenferrujar a mente,

Mover suas engrenagens.

*

Na internet, essas viagens

Pelo mundo literário

Passei a trilhar mais vezes

E vi mudar o cenário.

No Orkut, em comunidades

Busquei regras, novidades,

Fui um frequente usuário.

*

Fiz isso, pois temerário

Era enfrentar um sujeito,

Companheiro de trabalho,

Cordelista de respeito

Que propôs um desafio,

O qual gerou calafrio,

Mas acabou sendo aceito.

*

Dito combate foi feito

Em e-mails, por semanas.

Ao término, aprendizagem,

Experiências bacanas.

Sobre a metrificação

Expandi minha visão

Nas lides cotidianas.

*

Então, as letras ciganas

Provaram outras vertentes.

Além do cordel, soneto,

Dentre tantas diferentes,

Chegou, fascinante, a trova

Apontando rota nova

Às inspirações latentes.

*

Embora fossem presentes

Em meus escritos de outrora,

As trovas não eram vistas

Da forma que vejo agora.

Faz um ano e pouco apenas

Que as maravilhas pequenas

Pra valer a verve explora.

*

Havia certa demora

De enfrentarem julgamento

Aquelas divagações

Que nos versos apresento

E as coloquei sob exame:

De trovas foi o certame

Onde testei o argumento.

*

Para meu contentamento,

Sem ter tanta expectativa,

Consegui classificar

Na primeira tentativa

Duas trovas, um regalo,

Nos Jogos de Cantagalo.

Minha reação? Festiva!

*

Essa estreia positiva

Tocou o versejador.

Mais dez classificações

Tive, Novo Trovador.

Promovido a veterano,

Alcancei quatro num ano

De alegrias e esplendor.

*

Também um competidor

No meio dos cordelistas,

Com três participações,

Cheguei a duas conquistas.

Com um soneto na mão,

Já em outra seleção,

Fui um dos dez finalistas.

*

Não tomem por narcisistas

Essas palavras que escrevo.

Somente estou celebrando

O que me oferece enlevo.

Na peleja cultural,

Foi um ano especial.

Agradecimentos devo.

*

Dedico maior relevo

Ao Arquiteto do Mundo,

Responsável pelo dom

Com o qual a escrita inundo.

Àqueles com quem aprendo

Um preito acertado rendo

E suas lições difundo.

*

O sucesso é oriundo,

Dizem, de talento e sorte.

Acrescento nisso esforço,

Humildade, além do norte

Consistente em ter ciência

De que a busca da excelência

Não tem fim, é nosso esporte.

*

Configura a própria morte

Quem acha que sabe tudo.

Sou aprendiz e com isso

De jeito nenhum me iludo.

Isto posto, aqui termino,

Pedindo a paz do Divino

A todos, os quais saúdo.