O TREM

O rio manso caudaloso se agita. (Daniel)

Já faz tempo que não pego

O famoso e lento trem,

Que chacoalha-coalha-coalha

Em seu gostoso vaivém,

Ouvindo os seus ambulantes

Gritando feito quem-quem.

Pessoas de todo tipo,

Cor, idade, peso, altura,

Porém todos são da mesma

Classe pobre, sem ventura,

Procurando lenitivo

No mister, que é uma tortura.

Crianças que em tenra idade

Trabalham como os adultos,

Pulando pra cá e pra lá,

Ofertando seus bons cultos

Aos usuários perdidos

Nos pensamentos e vultos.

Desejam sobreviver

Agarrando-se a centelha

De vida que é fornecidas,

Às vezes sem casa ou telha

E demonstram os seus sorrisos

Doces feitos mel de abelha.

Pessoas dormem cansadas,

Fatigadas pelo trampo,

Sonham co'o lindo arrebol

Que só vemos lá no campo,

Esperando a data certa

Que aparece o pirilampo.

Talvez um sonho infantil,

Aguçado, destemido...

Talvez um sonho qualquer

Que por ninguém foi ouvido

Ou, quem sabe, um infactível:

Sucesso, o _One Piece_ obtido.

Quem vai saber que se passa

No quengo do maquinista?

Ele vê tantos lugares,

Sempre os mesmos, a conquista

É chegar com segurança

Ao final da longa pista.

Pista que todos estamos

Caminhando pra chegar

Na alvorada lá do Além

Que tanto se ouve falar,

No chacoalha-coalha-coalha

Deste tão intenso mar.

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 31/12/2018
Código do texto: T6539252
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