MEU CACHORRO CAÇADOR!!!

Eu morei no tabuleiro

Bem no aceiro da mata!

Possuí um vira-lata

Mestiço com perdigueiro

O seu pelo era trigueiro

Belo, macio e brilhante,

Era um cachorro elegante,

Daqueles que tudo come

Na escolha do seu nome

Optei por “vigilante”.

Cresceu sem ter regalia

Porém nunca fez protesto,

Seu alimento era o resto

Do que a gente consumia,

Só tinha nessa iguaria

Feijão, cuscuz ou coalhada,

Nunca viu ração comprada

Daquelas dos cães da praça,

Carne, só de alguma caça,

Por ele mesmo caçada.

Mesmo assim era nutrido

Forte, bravo e corajoso,

Sem se mostrar preguiçoso

Nem tão pouco esmorecido,

Pois sempre foi destemido

Audacioso e ousado,

Dava conta do recado

De maneira triunfante

Na luta intensa e constante

Quando campeava o gado.

Cercava a vaca malhada,

A vermelha ele atalhava,

Se a branca ali não estava,

Ia caçar a danada!

A preta desconfiada

Saía do lamaçal,

Pensando que era o “tal”

O touro até se atrevia

A enfrentá-lo, desistia,

Ia parar no curral.

Meu cachorro caçador!

De nada sentia medo

Acordava muito cedo

Pois não era dormidor,

Era muito corredor

Em mata, ou campo pelado,

Era desembaraçado

Quando pra caçar saia

Pegava peba e cutia,

Preá, coelho e veado.

Logo de longe espreitava

A raposa quando vinha,

Perseguir uma galinha,

Que pelo mato pastava.

Com a carreira que dava

Ligeiro ela era alcançada,

E sem poder fazer nada

Morria quase de graça,

Ao invés de pegar a caça

Ela é quem era caçada.

Em casa era atento a tudo

Uma forte sentinela,

Se alguém abrisse a cancela,

Soltava um latido agudo,

Era o mais fiel escudo

Sem cobrar nada por isso,

Cumprindo seu compromisso

Sempre foi uma atalaia,

Que nunca fugiu da raia

E nem brincou em serviço.

Sem nunca temer sol quente,

Mormaço nem chuva fria,

Fosse de noite ou de dia

Estava sempre contente,

Era um cão obediente

Sem atalho e sem desvio,

Zelou sempre por seu brio,

Sem jamais perder a classe

E se eu dele precisasse,

Bastava dá um assobio.

Nunca lhe faltou coragem

Pra trabalhar ou caçar,

Ia pra qualquer lugar,

Não importava a paragem,

E em qualquer abordagem

Agia com precisão,

Sabia qual decisão

Deveria ser tomada

Sem agir de forma errada

Em qualquer ocasião.

Vigilante era um cão forte

Defendendo o dono seu

E jamais se esqueceu

De dar-lhe apoio e suporte,

Caçar era o seu esporte,

Cuidar da lida também,

Nunca deixou ao desdém

Ao relento, ao abandono,

Sua dona nem seu dono

A quem tanto ele quis bem.

E, se alguém me insultasse,

Com ousadia atrevida?

O cãozinho dava a vida,

Por mim, se necessitasse!

Nem calculava o impasse

Que essa atitude causava,

Agindo de forma brava

Era quase uma loucura

Porém naquela aventura

Morria, mas me salvava.

Não me deixava por nada!

No lazer nem no perigo

Ia pra festa comigo,

Pra casa da namorada,

Deitava lá na calçada

Esperando paciente,

Ficava muito contente

Ao ver que eu já ia embora

Podia ser qualquer hora

Ele estava ali presente.

Quem tem um cão como aquele

Cordial, leal, amigo,

Não teme qualquer perigo

Estando por perto dele,

Pois pode confiar nele

Em qualquer situação

Seja vantajosa ou não

Ele vai lhe proteger

E lhe ajudar resolver

Qualquer que seja a questão.

Tudo tem seu tempo certo

Conforme manda o destino,

O meu cãozinho ladino

Valente, capaz, esperto,

Também não estava liberto

Dos males que o tempo traz

A doença contumaz

Chegou sorrateiramente

Mostrando que brevemente

Daria seu golpe audaz.

Lentamente definhando

Vi meu cachorrinho lindo,

O mal só lhe consumindo

E a vida desmoronando,

Ele tristonho me olhando

Como quem quis me dizer,

Foi imenso o meu prazer

Por ter eu vivenciado

A lhe servir do seu lado

Valeu a pena viver.

Numa manhã parda e fria

Que só retrata a tristeza,

Aquela vida indefesa

Lentamente se esvaia,

O corpo se contraía

Perdendo a mobilidade

A morte sem piedade

Esse caipora inimigo

Levou meu cãozinho amigo

Deixou somente a saudade.

Autor: Carlos Aires

21/02/2019

Carlos Aires
Enviado por Carlos Aires em 21/02/2019
Código do texto: T6580932
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