LAMPIÃO E SEUS CABRAS
No meu sertão brasileiro
Sobretudo no Nordeste
Em período passado
Foi palco de faroeste
Volantes e cangaceiros
Coronéis e mais coiteiros
Duelavam-se no Agreste.
Para essa gente da peste
Não cabia compaixão
Conforme sua proeza
Já tinha repercussão
Os renomes bandoleiros
Entres outros pistoleiros
Tinha fama no sertão.
A lenda de valentão
Corria todo o Agreste
Cabeleira a Jesuíno
Os jornais de Sul a Leste
Noticiavam as façanhas
Dessas ferozes aranhas
Praticadas no Nordeste.
Era muito cafajeste
Vivendo na bandoleira
Crime e rixa de família
Era coisa corriqueira
O Nordeste brasileiro
Época de cangaceiro
Era terra sem fronteira.
Nessa área pistoleira
Imperava outro chefão
De todos os cangaceiros
Mais temido do sertão
Seu nome era Virgulino
E por ordem do destino
Versado por Lampião.
Cito aqui com precisão
Alguns nomes e apelidos
De Lampião e seus cabras
Intrépidos e atrevidos
Audaciosos e valentes
Vorazes feito serpentes
Entres heróis e bandidos.
Assim eram conhecidos
Cobra verde e Peitica
Relâmpago e Patativa
Tempestade e Canjica
Estrela D´alva e Sabino
Antônio Ferreira e Divino
Caburé e Tiririca.
Canário e Ventania
Sabonete e Cajazeira
Alecrim e Passarinho
Cravo Roxo e Quinta-feira
Pilão Deitado e Tetéu
Mais Barra Azul e Xexéu
Beija-flor e Pitombeira.
Fortaleza e Português
Meia-noite e Juriti
Jitirana e Lavandeira
Asa-branca e Bem-te-vi
Mais Rouxinol e Medalha
Ainda Pai Velho e Navalha
Velocidade e Zumbi.
Roxinho e Chico Peste
Moita Braba e Livino
Lírio Roxo e Limoeiro
Vinte e Cinco e Severino
Volta Seca e Gavião
Guri, Corisco e Balão
Novo Tempo e Ponto Fino.
Santa Cruz e Jararaca
Barra Nova e Cuidado
Criança e Luiz Pedro
Diferente e Delicado
Sabiá e Mergulhão
Zabelê e Zé Melão
Elétrico e Demudado.
Deus Te Guie e Massilon
Ferrugem e Zé Baiano
Borboleta e Zé Vicente
Lua Branca e Vitoriano
Gato, Jurema e Trovão
Lua Nova e Azulão
Come Cru e Mariano.
Virgínio e Labareda
Zé Sereno e Cordeiro
Esperança e Moreno
Quixabeira e Coqueiro
Maçarico e Cocada
Bom de Vera e Trovoada
Gasolina e Marinheiro.
Candeeiro e Catingueira
Arvoredo e Corró
Pó Corante e Cajueiro
Nevoeiro e Cobra-cipó
Pinto Cego e Paturi
Caninana e Sucuri
Cascavel e Curió.
Amoroso e Laranjeira
Zepelim e Cansanção
Pinga-fogo e Bala quente
Mané e Zé Julião
Peba, Cirilo e Quindu
Gato Bravo e Capuxu
Moderno, Moeda e Pavão.
Nas picadas do sertão
O Virgulino Ferreira
Venerava a coroa
Dada por Sinhô Pereira
Porém essa tal herança
E por razão de vingança
Seguiu-lhe a vida inteira.
Tardava e acordava cedo
Quem era seu inimigo
Por toda a redondeza
Lampião era perigo
E ai! Daquele de quem
O tratasse com desdém
O túmulo era o abrigo.
Acompanhando o enredo
Nas veredas do sertão
O Nordeste brasileiro
Bem antes de Lampião
Já vivia pelos ares
Com abalos populares
Canudos a Caldeirão.
Parte da população
Dos estados do Nordeste
Porém, sobretudo aquelas
De todo árido Agreste
Sofriam as consequências
Abusos e violências
Desses tais cabras da peste.
Desse reino obsoleto
De agrado nada saía
A desordem era certa
Quando algum bando surgia
E se quisesse viver
O melhor era correr
Antes do raiar do dia.
Aquele que não fugia
Do bando era refém
Exigia-lhe dinheiro
E mantimentos também
Para o chefe Lampião
Ai! De quem dissesse não
Ia direto para o além.
E não ficava ninguém
Quando se ouvia o boato
Lampião vem por aí
O povo sumia no mato
Deixando tudo pra trás
Casa e comida, aliás,
Cachorro, porco e gato.
Notícia corria pasto
E pelo Brasil inteiro
Diários daquela época
Delatavam o berreiro
De pessoas nas cidades
Vítimas dessas maldades
Versada por cangaceiro.
O grupo de bandoleiro
Nada tinha a temer
Desafiava a volante
Com o máximo prazer
No punhal ou no facão
De rifle ou de mosquetão
Lutava até morrer.
O que Lampião falasse
Já dava repercussão
Gostava de ser notícia
Na capital e sertão
Às vezes era amado
Outras vezes odiado
Conforme a ocasião.
O insolente capitão
Reinava todo garboso
Alguns até comentavam
Era o próprio tinhoso
Abria qualquer bloqueio
E em todo bombardeio
Saía vitorioso.
Lampião impetuoso
Temido pelas volantes
Afrontou tais coronéis
E ferozes comandantes
Sete estados do sertão
Onde passou Lampião
Desafiou seus governantes.
Para seus desafiantes
Ele era mandingueiro
Se envultarva em toda parte
Sumia no catingueiro
Deixava o rastejador
Feito cachorro amador
Sem rumo e sem roteiro.
Pelo sertão brasileiro
E por todo o seu Agreste
O Lampião juntamente
Com os seus cabras da peste
Foi mote regionalista
Na cabeça de cronista
Nas gazetas do Nordeste.
Fez muitas estripulias
No Nordeste brasileiro
O Virgulino Ferreira
Da Silva, o cangaceiro
Ele casou e batizou
Além disso se aclamou
Rei desse sertão inteiro.
Esse bravo bandoleiro
Assombrou todo sertão
Foi amado e detestado
Às vezes sim e outras não
Traído pelo fuxico
Lá na Grota do Angico
Acabou-se Lampião.
FIM.