A Festa dos Vaqueiros (2018)

Grande festa dos vaqueiros

Nos torrões de Curaçá,

Multidões para brindar

A força desses Guerreiros

Que com gestos catingueiros

Faz d’um risco a profissão

Por loucura ou por paixão?

Não se sabe bem ao certo,

Sei que a morte os ver de perto

Nas labutas do sertão.

Se jogam caatinga à dentro,

Desafiando o destino,

Por bravura ou desatino

Praguejam sua sorte ao vento

Porém c'um louco talento

Se defendem ao imbuzeiro

Correndo c’um boi ligeiro

Desce às pontas do animal

De força descomunal,

Comparada à do Vaqueiro.

Enfrenta chuva no lombo,

Dá sua cara ao marmeleiro,

Na seca queima o facheiro,

Nas carreiras, tantos tombos,

Nos peitos, vários calombos,

Por esquecer o perigo,

Faz d’uma furna um abrigo,

A farofa é a companheira

Que leva em sua gibeira

E o cavalo, o grande amigo!

A festa de Curaçá

Faz singela homenagem

Para esse ser de coragem

Que sofre sem lamentar

Mas, aprendeu laborar

Com requinte d’um artista

Assim foi Martin Batista

E o Pedro Liberato,

Vaqueiros bons e sensatos

Na caatinga e bons na pista.

Eu me lembro dos aboios

De Bina da Primavera

O Vaqueiro era fera

Com a rima e c'a boiada,

Vaqueirama está calada

"Não tem boi do mangangá

Não toma café, nem chá

Quem não tem chaculateira,"

Fechou então a porteira

O grande Zé de Mariá.

O vaqueiro de coragem

Esbagaça o calumbí

Como fez Mané Cari

Na sua vida, sem triagem,

De vereda fez rodagem

Atrás de gado, correndo,

Traquejou a vida vivendo

De perneira e de gibão,

Vaqueiro por devoção

Se sorrindo ou se sofrendo.

Valentim da Canabrava,

Seu Dó na Canavieira

Na caatinga ou na porteira

Jamais o touro escapava,

Se botavam, então pegava

No sedém sem compaixão

Torando quebra-facão

Sem se importar c’o fechado,

Botavam sempre pegado

Pegavam sempre no chão.

De vaqueiros afamados

Lembro Zé de Agostinho

Como também Tio Toinzinho,

Todos dois eram atestados,

Entravam sempre abaixados

Nos baixios desse sertão

De escudo, só o gibão

Livrando-os das imburanas,

Sem pestanejar pestanas

Derrubavam barbatão.

Agripino o destemido

Da Fazenda Santo Antônio,

Pegava até o demônio,

Se corresse em destampido,

Touro bravo ou redimido

Não precisava perneira,

Com Didi da Ipueira

E Neném de Seu Gregório,

Boi de fama ou sem folclórico

Tombavam na faveleira.

O Hélio com Mané Pio,

Pai e filho renomados

Em mufumbos bem fechados

Vaqueiros de tanto brio,

Sob o sol ou sob o frio

Gado berrava suplico,

“Pensavam; eu saio ou fico?!”

Por não poder escapar

Quero também relembrar,

O grande Agostinho Bico.

Quantas estórias contadas

De vaqueiros afamados

Hoje aqui, foram lembrados

No repente e nas toadas

Na memória, eternizadas

Nos versos de um cantador

Que canta alegria e dor

Desse mito singular

Festejado em Curaçá

Por respeito e por amor...

Ticiano Félix.