Os dissabores de um meirinho numa diligência amargurada
Eta! Aqui estou chegando agora
Sem meus oculos não vejo nada
A gente vai envelhecendo na profissão
No cartório, no mato ou na estrada
Quero contar um causo a vocês
Que, de início, parece engraçada.
Que, de início, parece engraçada
Mas, na lembrança da vontade de chorar
Nosso labor só contado em poesia
Para dar prazer de escutar
Prestem atenção em cada rima
Que vai te fazer sorrir e emocionar.
Que vai te fazer sorrir e emocionar
Comigo nesta máquina infeliz
Catando milho para poder escrever
Como outrora, sou eterno aprendiz
Comecei a certidão dizendo
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz.
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz
Da Vara Cível de Ubaitaba
Vou me dirigir com ousadia
Porque só eu sei a dor da estrada
Converti em versos esta certidão
De uma diligência amargurada
De uma diligência amargurada
De mandados que nos tiram o norte
Nos enfia em tudo quanto é lugar
Até na zona da tal da morte
Seja a pé, canoa, moto ou jegue
Tudo pra nós é um transporte
Tudo pra nós é um transporte
Sei que não posso reclamar
Mas, o indivíduo desta Precatória
Infelizmente deixei de citar
O cabra mora no cabrobó
Não teve santo que fez achar.
Não teve santo que fez achar
E o meu itinerário vou descrever
Em busca da Serra dos Vinte
Fui cumprir o meu dever
Sem conhecer a região de Itacaré
No ramal errado fui me perder
No ramal errado fui me perder
Com a motoca que furou o pneu
Obrigando retornar a Faisqueira
Sofrendo mais que Cirineu
Num borracheiro “fiz a força”
E fui por outra estrada que apareceu.
E fui por outra estrada que apareceu
E por agricultores fui interpelado
Eles disseram que eu não prosseguisse
Senão eu voltaria amargurado
Enfrentando os chuviscos da chuva
Segui o caminho todo acabrunhado
Segui o caminho todo acabrunhado
E a tempestade me fez interromper
Porque se eu caísse seria pior ainda
Sem ninguém para se compadecer
Sozinho naquele ermo de mundo
Indigente, este oficial iria morrer.
Indigente, este oficial iria morrer
Porque a motocicleta começou a derrapar
Olhe que não sou de fugir da raia
Mas as circunstancias me fizeram voltar
sem cumprir a ordem do magistrado
Que acredito que não vai se zangar.
Que acredito que não vai se zangar
Porque este Oficial não é de mentira
A estrada da Zona da Serra dos Vinte
Foi quem salvou aquele caipiria
Podia ser no mato ou embaixo da cama
Ele não sairia da minha mira.
Ele não sairia da minha mira
Mas, a estrada é muito decadente
Devolvo, portanto, o mandado retro
Encerrando o que não foi diligente
Por ser a pura verdade, eu dou fé
Assinado: o meirinho competente.
CERTIDÃO EXTRAÍDA DOS AUTOS DA CARTA PRECATÓRIA DEPRECADA À COMARCA DE UBAITABA E TRADUZIDA EM VERSOS.