Os puxa-encói do minino buchudo e a destemida sorte
Já fui minino buchudo
Intupido de lombriga
Chupei muita macaúba
Comi gelé, dindin e tripa
Comprei briga cá sorte
Essa amiga malovida
Tive berruga nos dedos
Nos olhos tive dordói
Cachumba e catapora
Febre alta e puxe-encói
Só nunca tive a sorte
De trazer ela nos cós
Apostei corrida em saco
Pegando vento cá boca
Eu colecionei pereba,
Piolho, lendia e mosca
Dei a língua pra sorte
E ela se fez de moca
Pintei tantos e vários sete
Subindo no pau de sebo
Escorrendo pela vida
Aprontando desde cedo
Esbufetando a sorte
Enfrentando sem medo
Andei pinotando o vento
No meu cavalo de talo
Caçando Maria-cega
Lá no riacho de baixo
Arenguei feio cá sorte
Deixei ela em frangalhos
Atirei sal em sapo
Brinquei de tica-cola
De bandido e puliça
De bafo e pula corda
Fiz cabra cega cá sorte
Inté ela fica morta
Acendi fogo no mato
Guiando minha roladeira
Fiz pipa de papel e grude
Nos tempos de brincadeira
Troquei tapa cá sorte
Deixando ela de bobeira
Tive os joelhos ralados
Correndo atrás da bola
Os dedos chabocados
De tanto chutar a sola
Esmurrei tanto a sorte
E não deixei ela ir embora
Usei a bola de meia
Na vez dos sete pecados
Podre a suor e chulé
Melando a camisa de rato
Tirando fino na sorte
Esquivada para o lado
Subi no pé de manga
Achando ser um herói
Lancei corda pros galhos
Pulei fechando os zói
Desafiei a minha sorte
Sem saber o quanto dói
Fiz minha baladeira
Armei no mato a assapã
Prendi um galo campina
Mais adiante a avelã
Botei no bolso a sorte
No coração fiquei tantã
Crescido, um pente no bolso
Brinquei no passarás
Senti o hálito da moça
Querendo saber mais
Arrisquei tudo na sorte
Me abestalhando demais
A danada foi dizendo
Preu escolher sem demora
Ali, naquele momento
Dizer em cima da hora
Descruzando a minha sorte
Antes quela fosse embora
Quer ruge ou batom?
Responda sem mentir
Fiquei foi entalado
Sem poder nem cuspir
A saliva da minha sorte
Me fazendo escapolir
O peito na latumia
Se abufelou cas lombrigas
De longe eu só ouvia
O mei moi de intriga
Inté esqueci da sorte
Fiquei de dor de barriga
Depois brinquei de anel
Arrochando bem o dedo
Casando cá morena
Dona do meu desmantelo
Fui fazer careta pra sorte
Ela devolveu sem medo
Ainda arrisquei a sorte
Atirando no ar o pião
A linha era pouca
Ele não rodopiou não
Caiu mesmo no meu pé
Desvendando emoção
Cresci mesmo sem querer
Deixando de lado o minino
As traquinagens de ontem
Por um adulto rapino
Desejado de ter sorte
Para endireitar o destino
Caso alguém saiba dela
Dê, faz favor, o recado:
Trate de voltar logo
Já estou desesperado
Quero de volta o menino
Do bucho desmantelado
Marcus Vinicius - 21.04.2019