O velóio do tempo.

Fui levado ao escritório

Sem saber o fundamento

La havia um falatório

Sobre o triste passamento

Descobri ser um velório

Era a morte do tempo.

La estava uma viúva

Que chorava sem parar

Usava um anel e luva

E chapéu pra disfarçar

Disse que veio na chuva

Para o tempo ela enterrar.

Ela era a vaidade

Que ali fora aproveitar

Falar com a insanidade

Que o céu é o seu lugar

E mostrar para a saudade

Que o sol vai se apagar.

Vi também a lealdade

Num cantinho a meditar

Dizia que a mocidade

Leva a vida a provocar

Ignora uma verdade

O seu dia vai chegar.

Vi uma mulher sentada

Em um banco no jardim

Fez durante a madrugada

A coroa de jasmim

Apesar de conformada

Disse ser melhor assim.

Perguntei quem era ela

Ela disse ser alguém

Que chorava na janela

E falava com ninguém

Se fechou à taramela

Pra poder chorar também.

Era a felicidade

Que perdera o seu partido

Via como crueldade

O corpo ali estendido

Já ouvira ser verdade

O tempo fora vencido.

Veio a eternidade

Dizer que o tempo voa

Pouco importa a mocidade

Pouco importa andar a toa

A dura realidade

É que a vida sempre escoa.

Veio a felicidade

Dizer que amava o tempo

Disse que a docilidade

Trouxe o convencimento

E que a formalidade

Trouxe o conhecimento.

Repartiu com a saudade

Bons momentos que viveu

Repartiu com a caridade

O pão que também comeu

E deu pra humanidade

O amor que recebeu.

Repartiu com a virtude

A visita a um doente

Quando pôde deu saúde

Socorreu um indigente

Dando a ele, sem ser rude,

Um prato de sopa quente.

O tempo a acobertou

Sobre o manto da pureza

O passado a procurou

Pra lhe dar a realeza

O futuro a coroou

Com o grau de fortaleza.

Depois chegou a coragem

Dizendo que se atrasou

Porém em uma ramagem

Uma flor desabrochou

E logo a camaradagem

Disse que a hora chegou.

Então veio a esperança

Pedindo pra esperar

O tempo é como uma criança

Pode até ressuscitar

E porque nunca se cansa

Nunca pensa em descansar.

Depois chegou a tristeza

Pra falar com a amizade

Falou sobre a realeza

Que existe na verdade

Disse pra delicadeza

Que o amor produz saudade.

Ouvi um sino bater

Era hora de partir

Então pude perceber

Que não tinha aonde ir

Fui então reconhecer

Um caminho pra seguir.

Ouvi o tempo falar

Pelo meu viver eu rogo

Todos devem acreditar

Meu adeus é até logo

Por vocês vou esperar

O voto contra eu revogo.

Renato Lima
Enviado por Renato Lima em 21/04/2019
Código do texto: T6628920
Classificação de conteúdo: seguro