CORDEL DO AMÔ – SEGUNDO LILI MAIAL

O amô é uma duença,

nos ataca pelas costa,

faz qui é tudo só querença,

que de tudo o cabra gosta,

mas basta num concordá

com o que seu mestre mandá,

pra virá tudo uma bosta.

O amô faz nós sorri,

um sorriso de ilusão,

meusamô daqui e dali,

Meu benzim, minha paixão,

mas deixa um homi espiá,

Pra modi te namorá,

Que vai tudo pelo chão.

O amô tem o desejo,

de vivê sempre do lado,

começa co’o tar do beijo,

deixa os dois apaixonado,

inté que outra boca surge,

num há flô que nunca murche,

esse vaso tá rachado!

O amô é tão bonito,

Nasce lindo como anjinho,

Faz o coração aflito,

Se separa o seu caminho,

Mas ele mostra a feiúra,

Num momento de loucura,

Se o ciúme é seu padrinho.

O amô é um ancião,

palhaço mais que manjado,

engambela a multidão,

Faz do esperto um atolado,

Mas todo mundo qué tê

Um amô inté morrê,

Êta truque bem forjado!

O amô engana o tempo,

jura que não tem fim,

Tudo é só contentamento,

Se ocê tá junto a mim,

o chato é quando se casa,

O carim sempre atrasa,

Tem criança no meim...

O amô é tudo di bom,

como é bom fazê cordé,

por isso é sempre bom tom,

num arriscá sem tê fé,

Que esse troço é traiçoeiro,

Ninguém sabe quem primeiro,

Lá pra trás deixou o pé...

O amô tem seus percalço,

todo dia é posto ‘a prova,

a muié cum filho falso,

Coroa flertando a nova,

Bunito é só o começo,

Adispois vem os tropeço,

Se é cumigo, leva sova!

O amô num tem idade,

ama, o gato, a quarentona,

E co’a maió liberdade,

Ama, o véio, a gostosona,

O difíci é qui nem nóis,

Cá debaixo dos lençõis,

Disgrudá da maratona!

O amô num tem fronteira,

felicidade que encanta,

posso num sê brasileira,

mas sotaque num espanta,

só num vai miscigená,

purque eu viro carcará,

navalha na coxa canta!

O amô é todo entrega,

ce dá tudo que ocê tem,

dá o céu, dá as estrela,

dá o cume, sem porém,

adispois de tanto dá,

se num tem pro ladicá,

vai pagá cum o teu também...

O amô é sorrateiro,

chega bem devagarinho,

treme o corpo por inteiro,

te derrete direitinho,

mas não hora de acabá,

é barulho de matá,

dessa flô só fica o espinho.

Meus amigo du RECANTO,

num credita nas palavra

de poeta aqui mangano,

só brincano de sê brava,

qui o amô é alimento,

seja alegre ou sofrimento,

nasce em mim e num se acaba.

Lili Maial – se achegando aos cordelista do RECANTO