Cordel para Bananeiras

Cidade de Bananeiras

No brejo paraibano

Suas lendas, tradições

Seu passado soberano

Narrarei neste folheto

De um cronista veterano

O seu núcleo urbano

Surgido de sesmaria

Começou em priscas eras

Quando o século nascia

Já na era dezessete

Não se sabe mês e dia

Uma facção bravia

De arrojados pioneiros

Explorou essas colinas

E seus cenários brejeiros

Vindos lá de Mamanguape

Nobres e aventureiros

Coriolano Medeiros

Grande historiador

Garante que Bananeiras

Tem como desbravador

Mestre Domingos Vieira

Seu primeiro morador

Era dono e condutor

Da distante sesmaria

Que com Domingos Vieira

Foi precursor e seu guia

Arquitetando o arcabouço

Da vila que aqui surgia

Na gleba rica e vazia

Escolheram uma lagoa

No fundo de um verde vale

De água limpa e boa

Cercada de pacoveiras

Qual verdejante coroa

Pacoveira hoje abençoa

E dá nome a esta cidade

Se trata de uma banana

De azedia densidade

Imprópria ao consumo humano

Mas, por sua quantidade

Mostrou-se com qualidade

Para dar nome à vila

Bananeiras batizada

O povo logo assimila

Sua riqueza amplifica

Seu nome então rutila

A vilazinha tranquila

Foi o maior produtor

Já no século dezoito

Com São Paulo vem compor

Do precioso café

O maior exportador

Até o Imperador

Como sábio soberano

Citava que Bananeiras

Produzia todo ano

Mais de um milhão de sacas

No nosso clima serrano

Assim o núcleo urbano

Foi tomado de riqueza

Mesmo sem ter um transporte

Que emprestasse presteza

O café sempre chegava

Na mais fina e nobre mesa

Assim a vida burguesa

Em Bananeiras crescia

Alastravam-se as mansões

Mas o trem só chegaria

Setenta anos depois

Na urbe que se erguia

O café que se colhia

No tempo colonial

Ergueu prédio art-decô

Da burguesia rural

Palacetes importados

Opulência sem igual

Depois veio o grande mal

Que matou a plantação

Contaminou a lavoura

Trazendo devastação

Então o fausto da elite

A praga jogou no chão

Foi grande essa constrição

Na nossa economia

A cidade se viu pobre

Quem na opulência vivia

No ano de 23

O café se despedia

Mas deixou como valia

Patrimônio cultural

Mais de 80 edifícios

Como notável portal

Do nosso rico passado

No tempo colonial

Citamos neste jornal

No rol desse casario

Edifício dos Correios

Pelo seu belo feitio

Com quase duzentos anos

Joia da terra do frio

Com paredão alvadio

Palácio de sacramento

Aparece a bela igreja

Senhora do Livramento

Um dos mais ricos esteios

Desse patrimônio bento

Concluída cem por cento

Sua lenta construção

Demorou uns vinte anos

Para receber benção

Com o padre Ibiapina

Incentivando a missão

Em 19 este chão

Teve a primeira rua

Calçada com toscas pedras

Para que a urbe evolua

Atualmente o passado

O seu povo bem cultua

Para que a fé instrua

Um ateneu foi erguido

Colégio das Doroteias

Naquele bom tempo ido

A elite feminina

Teve seu saber benzido

E com forte alarido

Chegou o trem na cidade

Em 22 de setembro

De 22, na verdade

Na serra da Viração

Entrou na vacuidade

Filho ilustre da cidade

Solon Lucena apostou

Nesse modal de transporte

E a ferrovia chegou

Cortando a pedra maciça

Com arrojo governou

Nosso espírito mergulhou

Com espectro selvagem

Em um belo lençol d’água

Paradisíaca paisagem

Cachoeira Roncador

Embelezando a viagem

Natureza fez cunhagem

De moeda exuberante

No riacho Bananeiras

A cachoeira cantante

É um paraíso vivo

Com rica flora a jusante

Outro cenário marcante

Engenho Goiamunduba

A serra de Cupaóba

Que a bela cena encuba

Serras e montes altivos

A terra fecunda aduba

Venha comigo e suba

A serra da Borborema

Atravessa a Paraíba

Numa dimensão extrema

Da nossa topografia

É o principal emblema

Quero no simples poema

Levantar uma bandeira

Lembrar a arte e talento

De João Melquíades Ferreira

Um poeta de bancada

Que nasceu nesta fronteira

No dia 7 de julho

Do ano sessenta e nove

Em tempo bem recuado

Lá no século dezenove

Nascia o poeta João

Talento que nos comove

Ele recria e promove

Esse cordel brasileiro

Bananeirense distinto

Grande talento brejeiro

Da ciência do cordel

Arte da qual sou herdeiro

Roma, Maia e Tabuleiro

Distritos da edilidade

Onde o rico artesanato

Se sobressai de verdade

O perito artesão

Mostra sua qualidade

Nessa bela atividade

Com madeira e cabaça

Com bambu e com argila

O artista opera e traça

Boneca, bolsa e rabeca

Crochê, fuxico entrelaça

Tonho Fernandes abraça

A arte da luteria

Faz guitarra e violão

Em perfeita harmonia

Diva e Rejane trabalham

Na arte com alegria

Produto que irradia

Nossa vocação primeira

Fazem bonecos e caixas

Da palha da bananeira

No distrito Vila Maia

Explode a arte caseira

E os doces de primeira

De fruteira variada

Bananagra e a Peteca

Que a todo mundo agrada

Todos feitos com banana

Em culinária abastada

Natureza preservada

Em toda zona rural

A dez minutos de carro

Tem floresta tropical

No sítio Goiamunduba

Vê-se a beleza campal

Mata nativa plural

Área de preservação

Com ecologia rara

Cumbre, Bica e Boqueirão

A lagoa do Encanto

Simboliza a perfeição

Brota deste fértil chão

A fonte da Juventude

Centro da mata da Bica

Celestial latitude

Natureza sedutora

Em modelar plenitude

Toda essa magnitude

Guardada em cem hectares

Muitas árvores já extintas

Em terrenos similares

Aqui vicejam altaneiras

Em projetos salutares

Entre vultos exemplares

Em Bananeiras nascidos

Citados Oscar de Castro

Dos mais bem reconhecidos

Escritor e jornalista

Dos mestres aqui surgidos

Entre esses já ungidos

Temos Solon de Lucena

Governou a Paraíba

Em uma regência plena

Essa figura ilustre

Enobrece a nossa cena

Antes de sustar a pena

Constamos nesta tribuna

Outras figuras ilustres

O Barão de Araruna

E Santos Estanislau

Que foi potente coluna

Nesse acervo e fortuna

Cito Aragão e Melo

Também Ascendino Neves

E outro nome revelo

O Monsenhor Pedro Anísio

E seu clerical martelo

Constando ainda no elo

Desse povo eminente

Clovis e Odon Bezerra

Uma família decente

E Synésio Guimarães

Enobrece nossa gente

Agora chegou à mente

Outra família que é certo

Que precisa figurar

Quando eu aqui disserto

Sobre pessoas ilustres

Apolônio e Humberto

De merecimento certo

Essa nobre descendência

Nóbrega de Bananeiras

Um exemplo de decência

Feito Adolfo e Celso Cirne

Incomuns em inteligência

Aqui eu quebro a cadência

Do meu verso popular

Divulgando Bananeiras

Que é o meu novo lar

Com o cordel brasileiro

É o que tenho pra dar

Esperando agradar

Ao povo desta cidade

Terra de Ismael Freire

Vate de capacidade

Que enobrece o cordel

Um valoroso confrade.

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 06/01/2021
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