CORDEL URBANO

CORDEL URBANO

Meus amigos de leitura

Vejam como a vida é dura

Nessa cidade medonha

A gente vê cada figura

Agüenta as amarguras

De uma vida tristonha

Acorda de madrugada

Com uma dor danada

Do colchão que tá no osso

Se lava com água gelada

Pega a marmita amassada

Companheira do almoço

Sai de casa meio tonto

Pois tem que chegar no ponto

Pra pegar ônibus lotado

No bolso num leva um conto

O pobre nunca ta pronto

Se sente um desgraçado

Chega morto no serviço

Magro feito um caniço

E tem que aturar o encarregado

Que não ta nem aí pra isso

Quer honrar o compromisso

Senão ta dispensado

Na hora de comer

Vai a marmita aquecer

Procura um canto escondido

Porque ninguém pode ver

O menu é de doer

Tem miojo e ovo cozido

A tarde passa lenta

Ele quase não agüenta

Ta louco pra ir embora

A dor no corpo aumenta

Queima feito pimenta.

Como se arrasta a hora!

O sinal vem finalmente

Lá vai nosso valente

Bater o seu cartão

Ele tenta passar na frente

Mas, com sua perna dormente

Ë o último a sair pelo portão

Antes de ir para o lar

Da uma passada no bar

Toma uma caracu com ovo

Quer a patroa encontrar

Porque quando o dia raiar

Começa tudo de novo.