ATRIZ DE UM FILME DE DOR

Se serviu da minha água;

Comeu da minha comida;

Usou do meu lar, jurou

Ser o amor da minha vida.

E agora, sem esperar,

Vem falando em me deixar,

Que já está de partida.

Que sujeita mais bandida,

Sem escrúpulo, ordinária...

Se tu nunca me quiseste

Então porquê, salafrária,

Viestes me enganar

Com este papo de amar,

Peste ruim, mercenária?

Em minha vida diária

Eu estava sossegado

Sozinho, isto eu confesso,

Mas feliz, acostumado

Pois como diz o vizinho,

É melhor viver sozinho

Do que mal acompanhado.

Aí tu vens pro meu lado,

Como quem não quer e quer,

Com um ar de sedução

Disfarçada de mulher

E eu todo me blindando

Em reluta, mas pensando:

Seja o que Deus quiser!

Não trouxe uma colher;

Somente a roupa do couro.

Te dei um banho de loja:

Joias de prata e de ouro,

Perfume, roupa, calçado...

Crente que tinha encontrado

Um grande amor duradouro.

Fingindo ser um tesouro

De amor e felicidade

Tu agias como quem

Me amava de verdade

Eu leso, todo iludido

Jamais tinha percebido

Que tudo era falsidade.

Dispunha tudo a vontade

Para você escolher:

Mobília boa, bacana;

O melhor para comer;

Smart TV e som,

Conforto, tudo do bom,

Pra usar ao bel-prazer.

O que eu podia fazer

Pra poder te agradar

Fazia com todo gosto

Sem nadinha te cobrar

E você só recebendo

Do bom, do melhor vivendo

E fingindo me amar.

Soubestes bem atuar,

Troço da cara lavada;

No cinema canalhice

Serás ovacionada;

Na categoria horror

No filme “Causando Dor”

Tu serás a premiada.

Pra mim não resta mais nada,

Só tristeza e solidão;

Já estava acostumado

A dividir meu colchão,

A rotina e a vida

Até que esta bandida

Tomou esta decisão.

Pobre do meu coração

Tá sofrendo com a pancada;

Ele que batia alegre

De forma tão agitada,

Hoje é gemendo e chorando

Triste, desacelerando;

Quase com a vida encerrada.

Segue o rumo desalmada

Longe daqui traste ruim!

Faça o favor de jamais

Se aproximar de mim;

Pois se isso acontecer

Posso a cabeça perder

E te dar pro guaxinim!

Benildo Nery

Um poeta de Montanhas

Em um dia de abril, de pandemia, de 2021.