A MIM O SISTEMA ATÉ VENCE, MAS NÃO CONVENCE
AUTOR: JOEL MARINHO
 
Volta às aulas, sim senhor!
Ecoou no Amazonas
Eu mando aqui nessa zona!
Gritou o governador
Ouço só o alarido
De um professor sofrido
Pelas redes sociais
Os que falavam em fazer greve
Agora falam de leve
Suas vozes não existem mais.
 
Estou vivo para ver
Toda essa confusão
Quem gritava eu sou machão
Só “latiu” para correr
Eu que já lutei bastante
Baixo as armas neste instante
Lutar a mim perdeu o brilho
Não luto mais por ninguém
Pois não sou motor de trem
Pra puxar peso em trilho.
 
A última greve foi tensa
Que até adoeci
Por pouco eu não morri
Ainda recebi ofensa
Fui chamado de otário
Por quem recebe no salário
O aumento por quem foi lutar
Ter consciência de classe
É mostrar as duas faces
Sabendo que vai apanhar.
 
Prometi e vou cumprir
Que não lutaria mais
Pra ter minha mente em paz
Achei melhor desistir
Pelo projeto tirano
Todos entram pelo cano
Agora é que vamos ver
Vamos voltar como gado
Pra no curral ser ferrado
E em seguida morrer?
 
Por enquanto eu resisto
Nessa minha obediência
Dizem que aos mansos compensa
Ter um funeral bonito
No caso agora, foi mal
Não vai haver funeral
Talvez a maldita nota
Da nossa secretaria
Que dirá de forma fria
Morreu mais um “idiota”!
 
Ops, digo professor
Desculpem a exaltação!
Mas essa é a expressão
Que cabe ao opressor
Tanto faz ser velho ou jovem
Se morrer, troca, resolve!
Esse é o nosso esquema
Troca a peça do motor
Aqui não existe amor
Tem que girar o sistema.
 
Você disse humanidade?
É pra chorar ou sorrir?
Isso não existe aqui
Muito menos liberdade
O sistema nos obriga
E entre nós cria intriga
Somos livres, porém presos
Sem consciência de classe
Criamos uma interface
Um grupo, mas não coeso.
 
Tudo é tão “politizado”,
Porém cada um por si
Quem descasca o abacaxi
Depois é pisoteado
E dessa forma o sistema
Diz que somos o anátema
E assim nos tem levado
Logo nós que estudamos
Chega até soar insano
Por um berrante guiado.
 
Não vou mais me esticar
Vou ficando por aqui
Quando a tormenta cair
Muitos ainda irão chorar
Mas vão dizer, isso é Deus
Me chamarão de ateu
E foi Deus que quis assim
O sistema até me vence,
Porém jamais me convence
Que tenho que comer capim.