História de Sander Lee, o japonês do agreste

Nascido em Itabaiana

A terra de Zé da Luz

Sander Lee surgiu poeta

Ainda hoje reluz

Esse talento que é nato

E ele tão bem conduz

Este folheto compus

Para exaltar o mestre

Poeta e declamador

Preceptor inconteste

Por ter cara de nissei

É o “japonês do agreste”

Esta pessoa rupestre

Caráter moldado em rocha

É um sujeito feliz

Cujo riso desabrocha

Fagueiro, hilário e alegre

Da desdita ele debocha

Foi conduzindo a tocha

Da mais fina poesia

Que ele se dedicou

E construiu uma guia

Para ensinar essa arte

E cantar sua elegia

Olhando a fisionomia

Com traços orientais

Temos como referência

A descendência dos pais

Mistura de índio e negro

Etnias nacionais

Nos relatos textuais

Deste poeta brilhante

Diz que foi até ator

E social militante

Lutando no sindicato

Para a luta ir avante

Sendo também palestrante

Gestor motivacional

Sander Lee é empregado

Em instância federal

Funcionário dos Correios

Ocupação atual

Formou um belo casal

Com a poeta Luciene

Progenitor de três crias

Em regozijo perene

Seus anais vou relatar

Neste momento solene

Vinte e cinco de janeiro

Mil novecentos e sessenta

Nasce Sanderli José

Mas antes, já na placenta

O pai cantava cordel

E o menino acalenta

Antes do bebê nascer

Já ouvia poesia

Seu pai lendo os folhetos

Para ninar sua cria

Quando Sander Lee surgiu

Já foi mostrando ousadia

Entrou logo em sintonia

Com a cultura popular

Com três anos de idade

Ele começou cantar

O Pavão Misterioso

E a Saga de Calabar

Com quinze foi trabalhar

Na luta do sindicato

Seu pai era presidente

Cidadão bom e pacato

Mas um líder inconteste

Aprazível e de bom trato

Brigou contra o patronato

Ao lado do camponês

Sander Lee foi aprendendo

Num tempo de insensatez

A peleja social

Do pobre contra o burguês

Tanta peleja ele fez

No tempo da ditadura

Na luta de Alagamar

Compartilhou muita agrura

E conheceu mais de perto

O povo e sua cultura

Foi nessa má conjuntura

Que Sander Lee aprendeu

Sobre a reforma agrária

A consciência cresceu

A força do coletivo

Experimentou e creu

Mesmo sendo um ateu

Admirava a Igreja

Dom José Maria Pires

Comandando a peleja

Dos pobres de Alagamar

E sua briga benfazeja

Na sua mente viceja

A ideia social

Conheceu o Biu Izidro

Um trabalhador braçal

Que fazia poesia

Com grande força mental

Uma peça musical

“Cantada pra Alagamar”

De Waldemar J. Solha

Feita pra denunciar

Inspirou-se em Biu Izidro

E seu jeito de lutar

Sander Lee, ao atuar

Na forte conflagração

Aprendeu com Biu Izidro

Um poeta do povão

Que a dor, a luta e arte

Se ligam nessa junção

Contra a exploração

Do latifúndio voraz

O camponês combatia

E nunca faltava gás

Porque tinha fé e versos

Contra o poder fugaz

Depois disso, nunca mais

Sander Lee abandonou

A arte de fazer versos

E se especializou

Nesse cordel brasileiro

De braçada ele nadou

E nos Correios entrou

Com a sua simpatia

No ano de oitenta e cinco

Onde exerceu a chefia

No teatro ele venceu

A sua bisonharia

A timidez contraria

Sua comunicação

Para vencer o acanho

Foi treinar encenação

No Grupo Experimental

Fazer papel de bufão

Fez peça de Lampião

ABC de Zé da Luz

E o batalhão das sombras

Grandes montagens produz

Em toda apresentação

O cordel ele introduz

Depois aceitou Jesus

Estudou para pastor

Mas o estro popular

Nunca perdeu o valor

Continuou escrevendo

Até cordel de louvor

Chegou até a compor

Uma peleja comigo

Falando de Itabaiana

Madre comum e abrigo

Estreitando esse laço

De confrade e de amigo

E esse apreço antigo

Com Sander Lee menestrel

Nos fez criar um bom grupo

A essa tribo fiel

É a nossa Academia

De poetas de cordel

Foi dentro desse painel

Que ele fez uma apostila

As regras do versejar

Com zelo e arte compila

Dentro da estruturação

O cordel ele desfila

Em oficinas destila

Ao poeta iniciante

Como fazer um folheto

Levando a arte avante

Nos saraus e recitais

Com sua verve brilhante

Com a presença marcante

E sua voz poderosa

O “japonês do agreste”

Vai levando em verso e prosa

Sua vida de artista

Fértil, fecunda e ditosa

Já dizia Spinosa

Na sua inquietude

Que ser feliz não é prêmio

Para uma atitude

Porque a felicidade

Exprime a própria virtude

Sander Lee na completude

É realmente feliz

Porque pautou sua vida

Fazendo o que sempre quis

Só não foi Besta Fubana

Mas escapou por um triz!

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 12/01/2022
Reeditado em 29/01/2022
Código do texto: T7427754
Classificação de conteúdo: seguro