CORDEL x DEPRESSÃO
Se alguém muda de humor
Preste bastante atenção
Ela pode estar sofrendo
Da terrível depressão
Um mal de difícil cura
Garanto não é frescura
Leia isso com atenção
De manhã quando acordo
Ao invés da alegria
É a tristeza que aparece
Pra me fazer companhia
Gostaria de não acordar
Ficar ali e me dopar
E dormir por mais um dia
Os sintomas são variados
De formas desconhecidas
Desânimo desesperança
Insônia noites perdidas
Vejo gente se matando
Vejo carros capotando
Pessoas no chão feridas
Todos dizem ter a cura
Da reza ao espiritismo
Já frequentei tudo isso
Mas sempre com ceticismo
Cartomantes e benzedeiras
Acupuntura e resadeiras
Mas só ampliei o abismo
Já fiz vários tratamentos
Comecei com anciolax
Depois com diazepan
Mais tarde usei o lorax
E depois o lexotam
Agora o clonazepam
Também usei o prozax
Estando no fundo do poço
Uma saída eu buscava
Apelava para as bebidas
Aquilo me confortava
Quando passava o efeito
Ficava um vazio no peito
E a tortura retornava
Já tive surtos de fobia
De coisas a minha volta
Já não tenho mais alegria
As vezes isso me revolta
Tomado pelo pavor
Ninguém houve o meu clamor
E a tristeza não me solta
Dizem que isso e preguiça
Coisa pra não trabalhar
E até os meus parentes
Já começam a duvidar
Eu me encontro acuado
Os amigos saturados
Começaram a me evitar
Um dia li um poema
Hoje não lembro de quem
Reclamava um enfermo
Que a morte seria um bem
Mas coitado não teve sorte
E até a própria morte
Esqueceu dele também
Uma das piores coisas
De quem tem a depressão
É ser vítima de preconceito
De pessoas sem coração
Que vivem fazendo pouco
Dizem que sou mais louco
Querendo chamar a atenção
E o pior de tudo ainda
É não saber desabafar
Quero contar o que sinto
Mas nem mesmo sei explicar
Mas eu luto mesmo assim
E o que dói dentro de mim
É não conseguir chorar
Se estou num edifício
Vejo ele incendiando
Se entro num elevador
O mesmo vai despencando
Um terremoto surgindo
O grande avião caindo
E o navio afundando
Quando ouço o estampido
De um foguete estourando
Imagino alguém baleado
Cambaleando e sangrando
Alguém que perdeu avida
E a faísca multicolorida
É trovão relampejando
Hoje o mar está agitado
Deve ser um tsunami
As pálpebras que tremem
É prenuncio de derrame
O zumbido de uma abelha
Um vaga- lume uma centelha
Deve ser fogo ou enxame
E assim é minha vida
No meu convívio diário
Em todas as situações
Vejo os piores cenários
Luto para reverter
Mas não consigo vencer
Este monstro imaginário
Hoje fazem muitos anos
Dessa espera angustiante
Tive picos de melhoras
Mas só por alguns instantes
Só o poema me desperta
Deus mandou na hora certa
Pra mim o melhor calmante
FIM