Proesia de 1 acorde (potigüês)
Na quentura do Piauí
Sonhei um dia se tivesse sorte
Me mudar de endereço
Sem precisar de passaporte
Sem nenhuma ruela furada
Amarrei tudo numa enxada
Fui em busca de transporte.
Chegando na rodoviária
Uma véia com a chapa num pote
Com o dedo torto apontou dizendo:
Tu és um sujeito de sorte
Pois o próximo ônibus que sai
Sem demora agora vai
Para o Rio Grande do Norte.
Chegando no litoral
Com a maresia e o vento forte
Peguei a Trilha Encantada
Onde quase cai na emboscada
D'uma cobra invocada
Enrolada em riba d'um poste.
A cobra me olhou
Fez que ia dar o bote
Nessa hora eu tive medo
Clamei Padre Quevedo
Dei um pinote!
Corri sem olhar pra trás
Como corri dias atrás
Pra conseguir alcançar o transporte
Que peguei na rodoviária
Depois de tomar a água
Que a velha tinha no pote.
Chegando no Vale Encantado
Tinha um povo dançando xote
Uma dona enxirida se aclopou no meu cangote
Disse que a partir daquela hora
Ia fazer o que fez a cobra
Enrolada no garrote.
Nessa hora eu me invoquei
Esperneei
Danei-lhe o xicote
A bicharada correu com medo
Menos uma passarinha e um capote
Que vieram em minha direção
Pra saber que arrumação
Um sujeito lampião
Conversa miolo de pote
A passarinha era miúda
Blusa azul vestindo short
Pra chegar no meu ouvidinho
Precisou subir num caixote
De repente a luz apaga
Eu me vejo numa barraca
Brincando de fazer filhote.
Eu gostei
Comprei um lote
Que é pra nós se amancebar
Plantar manga, côco, banana
Pitomba, maracujá
No almoço comendo brote
De sobremesa o teu cangote
Pra de noite nós se aninhar.
Hoje lembro daquela véia
Comendo o pacote de brote
Bem que a véia me falou
Que eu era sujeito de sorte
Se não morri foi por um triz
Passei por tudo isso e tu ainda diz
Que não sou nordestino
Que sou do norte.