DEZEMBRO, NATAL, ÉTICA E CONSUMO

( Lailton Araújo )

Hoje é um dia comum no Brasil, e por capricho da natureza, é verão! Um novo momento parece surgir na vida de cada pessoa. Aqui e em algumas nações do planeta Terra, começaram as campanhas publicitárias natalinas, cujo objetivo, é a venda de produtos disfarçados nas barbas de um Papai Noel, com ou sem trenó. O que é o Natal? Sabe-se que é uma solenidade cristã que simboliza o nascimento de Jesus Cristo.

Repensando os caminhos ou descaminhos - a palavra Natal - rima com ocidental; que também rima com comercial; e por consequência, deturpa o verdadeiro sentido natalino: fraternidade. Na sequência dos fatos, aparece outra palavra da mesma grandeza de Natal: ética.

Vive-se em um mundo de competições. O sucesso individual de cada indivíduo é alheio às realizações e triunfos coletivos. Quem não sentiu o ego sair da própria cabeça e engolir outras cabeças? A sensação é de onipotência. A vaidade - embora oculta - envolve qualquer mortal. É algo natural no ser humano, seja ele: materialista ou espiritualista; culto ou inculto. Algumas análises natalinas...

1. Nos próximos dias, a mídia mostrará vários Papais Noéis promovendo a venda de diversos produtos das grandes e pequenas agências publicitárias. São presentes para a noite natalina. Alguns destes são Made in Paraguai ou Made in Qualquer País. Outros possuem o selo de qualidade Made in Brazil. As mercadorias importadas, exportadas ou deportadas, passarão pelo controle alfandegário nos portos e aeroportos brasileiros?

2. Em 25 de dezembro, nos primeiros minutos, algumas famílias estarão reunidas e rodeadas à mesa farta de iguarias. O repertório será eclético, com Jingle Bells (J. Pierpoint) nas versões russas, alemãs, portuguesas, francesas, italianas, inglesas, e até japonesas. Nas periferias das grandes cidades, a mixagem de Jingle Bells - versão musical Hip Hop e sem DJ - poderá ter a participação de balas perdidas em um sonoro tiroteio, ecoando, acoplado ao contraponto musical. As harmonias ou desarmonias da nova versão da música serão os diferenciais nos recitais de Natal do Brasil. As harpas, percussões, coro e metais da bela canção natalina são apenas detalhes de produção.

3. Jesus Cristo - o Messias - estará presente como autor e convidado do evento chamado Natal. A distribuição de pão para os menos favorecidos - efetuada por seguidores e simpatizantes cristãos - saciará momentaneamente, o fantasma da fome na maioria dos continentes. Na capital federal, Brasília (à meia-noite), o Programa Fome Zero será concorrente da milenar Noite de Natal. O papa Francisco poderia concorrer ao cargo de Papai Noel honorário?

4. Os governantes, competentes e incompetentes - das várias nações - anunciam nas mídias suas realizações. Eles estimulam o consumo e consequente crescimento econômico. É saudável! O sucesso da grande ou pequena festa em comemoração ao Natal é o reflexo dos índices positivos dos últimos meses em qualquer país. E a falta de divulgação dos valores gastos com armas e guerras? Com certeza, estes citados valores aplicados na destruição humana ou suposta manutenção da segurança dos países, serão superiores aos disponibilizados na compra de pães para a conhecida ceia de Natal. As máscaras podem cobrir os olhos críticos de quem informa, mas não, de quem observa!

5. O que o Papai Noel vai carregar em seu trenó na Síria? Serão bombas, tanques de guerra, aviões de combate, mais soldados estrangeiros ou a paz? Sabe-se que crianças morrem todos os dias, naquele e outros lugares, onde existem conflitos políticos, ou reina a corrupção e miséria. O direito à vida passa a ser apenas um índice do Fundo das Nações Unidas para a Infância (em inglês United Nations Children's Fund - UNICEF), quando as nações civilizadas fecham os olhos aos problemas. O falado Messias, Jesus Cristo, deve ser filho de um Deus multinacional e multirracial. Talvez seja o primogênito do Deus adorado nos EUA, Europa, Ásia, Américas do Sul, Central e do Norte, África, ou ainda, qualquer lugar do Universo, se a vida existir lá fora. A história moderna - segundo a teologia - sabe que Jesus Cristo nasceu sem pátria!

6. Ao longo do ano, a sociedade procurou incentivar, quase sempre, os vencedores das pirâmides humanas, buscando os mais qualificados do mercado, e em todas as áreas. Os poderes públicos e privados selecionaram as pessoas mais capacitadas, através de concursos ou forma quem indique. Regra quase geral: os classificados serão sempre os mais fortes e bem articulados politicamente; ou aqueles que possuem boa aparência, educação e cultura; por último, aqueles sem escrúpulos. Onde está a ética? E os mais fracos? A conduta de presentear - incentivada pela mídia e aceita pelo público - não será uma forma de indenização entre indivíduos, motivada por alguma afronta aos princípios éticos?

Buscar o sucesso sem limites, ou aceitar sem questionamentos, que os mais fortes massacrem os derrotados nas competições diárias, é a confirmação da existência da falta de ética! É igual ao espírito natalino, moderno e comercial, sem as ideias de um Jesus Cristo autêntico e que inspirou o humanismo.