Crônica de Natal

Neste ano se completam cinco vésperas de Natal que Robson passa sozinho. Deixou a casa dos pais com vinte e três anos. Não casou e nem quer casar, pois já não acredita que duas pessoas possam ficar juntas até que a morte os separe. O que ele vê hoje em dia é bem diferente: até que o (a) amante os separe, parentes, dívidas, crises, até time de futebol tem separado. Não dá, definitivamente não dá para ele acreditar que algo como o casamento seja sério.

Todo ano é igual: a mãe de Robson liga pedindo para que passe com ela e o pai, mas ele não aceita, alega que não quer ver brigas, reclamações, ofensas, prefere ficar só a passar por tudo isso. E também seria uma contradição fazer isto, sendo que saiu de casa por estes motivos. É triste, mas é a realidade.

Seus vizinhos de porta, os Pereiras, sempre passam o Natal bem, trabalharam duro o ano inteiro, fazem até caixinha de Natal entre eles para que a ceia seja especial. Brigam como toda família, mas se perdoam e não há aquela falsidade de Natal que todos tentam transparecer uma paz que não existe. Essa é a família que Robson queria ter. Gosta do casal, dos três filhos. Sempre o ajudam no que ele precisa e o chama para passar o Natal junto com eles, mas sempre recusa.

Acontece que nesse ano Robson pensa diferente. Sua vontade é passar com alguém, só que até então ninguém o convidou e falta uma hora para a meia-noite. Será que os Pereiras se esqueceram dele? Não pode culpá-los, pois todos os anos o chamam, devem ter desistido. Justo dessa vez que queria, mas fazer o quê! Pegou suas coisas para ir até a praça, ao abrir a porta se deparou com Cristina, a filha mais velha do casal Pereira.

— Quer passar o Natal com a gente?

— É que...

— Já sei, prefere passar sozinho.

— Pensei que dessa vez não iriam me chamar, apesar de eu sempre recusar.

— Não desistimos de você. Aliás, na minha família ninguém desiste um do outro.

— É por isso que vocês são especiais.

— E então?

— Dessa vez decidi que passarei com vocês.

Cristina o levou até seu apartamento onde todos estavam ao redor da mesa. Antônio, o pai, ficou feliz e o recebeu como um filho. Ângela, a esposa, preparou um prato para ele.

— Que bom que veio passar com a gente.

— Obrigado por me chamarem e me desculpem por ter recusado nos outros anos.

— Tudo bem, você sabe o que faz.

É engraçado como o conceito de família varia. Dependendo da família que se foi criado e os valores que foram ensinados a visão será diferente. Dizer que o casamento e família é algo ultrapassado só pode sair de pessoas que não acreditam que elas mesmas serão capazes de manter um. O direito de constituir uma união é livre, porém condenar e criticar quem ainda preza por uma família não tem fundamento.

Depois daquele Natal, Robson encontrou uma mulher para si, noivou e dois anos depois se casou. Vieram filhos e formou sua família nos moldes que ele viu no vizinho como um exemplo a ser seguido.

FELIZ NATAL A TODOS

24/12/07

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 24/12/2007
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