Não ao elitismo e ao preconceito
07 de Abril de 1924. Nossa história de subversão estava se iniciando. Já havíamos demonstrado anteriormente que não nos curvaríamos diante de injustiças, opressão e elitismo.
O Club já arrastava multidões onde quer que fosse. Todos iam atrás da esquadra de Ramon Platero, composta por Nelson, Leitão, Mingote, Brilhante, Bolão, Arthur, Paschoal, Torterolli, Russinho, Ceci , Negrito, Russo,… Essa multidão encontrava uma porta, que se abria, para apreciar o espetáculo mais falado, mais querido naqueles tempos. Mas, infelizmente, era privilégio de poucos. E, esses poucos, trataram de deixar claro que não queria aquela multidão usufruindo do que achava ser seu de direito. Multidão composta de imigrantes, trabalhadores braçais (em sua imensa maioria de negros), analfabetos (também, em sua maioria, negros), comerciantes portugueses.
Onde o Club jogava lotava e gerava boa renda para as associações esportivas e para si. Mas também levava ao povo o direito de participar do espetáculo, seja como espectador, seja como praticante. E Ele entendeu sua importância para essas pessoas.
Quando, em arbitral, se define por regras rigorosas para que o jogo fosse praticado pela elite, foi dado o recado: “Pretos, pobres, analfabetos e trabalhadores braçais não são dignos de estar no mesmo campeonato que nós.” Flamengo - que triste coincidência, né, o clube que se diz o de maior torcida -, Botafogo, Fluminense e Bangu - um dos primeiros clubes de futebol a admitir negros em seu plantel - foram os maiores signatários dessas regras. Hoje, consideramos um absurdo, mas à época era o reflexo da sociedade brasileira. 35 anos após a abolição da escravidão no Brasil, aqueles negros que foram jogados à própria sorte, muitos tiveram que se vender a troco de migalhas para não morrer de fome, agora estavam sendo impedidos de praticar o footbal - já não bastava proibir a Capoeira.
Alguns dizem que o Club interveio visando somente o lado esportivo, mas desconhecem que muitos atletas recebiam aula de “bê a bá” do bibliotecário do Club. Desconhecem que muitos eram contratados por comerciantes portugueses. Ou seja, não era apenas football, era muito mais.
Nosso presidente, saudoso José Augusto Prestes, redige uma carta, um ofício, o Officio 216, para a AMEA, oficiando que nós não nos colocaríamos abaixo de tais regras. Não aceitaríamos ser do mesmo clubinho que eles. Somos mais importantes do que um reles campeonato. “Somos o Legítimo Clube do Povo”. O povo depende de nós e nós dependemos do povo. Não abrimos mão dos nossos valores e nem nos vendemos. Não aceitaremos que 12 dos nossos irmãos de luta sejam excluídos por conta do seu preconceito e do seu racismo. Resistiremos. Resistimos.
Nossa história foi construída com o suor e sangue dos nossos irmãos. Seja na torcida, seja em campo. Cada um representa o legado do “Legítimo”. Cada um representa um valor moral que se sobrepõe a títulos e vitórias em campo. Aqueles que vestiram a cruz de malta, como Ademir, Edmundo, Dinamite, Heleno, Nelson da Conceição, Barbosa, Isaías, Vavá, Ipojucã, Geovani, Mazinho, Juninho, Felipe, souberam defender nossos valores. Nosso maior título da história foi lutar contra o elitismo do futebol, contra o preconceito e contra o racismo. Sempre estaremos lá representando o povo.
Nossa Resposta será sempre Histórica.