Apita o árbitro
Outra biblioteca, tento digerir uma coletânea de contos que ganhou o prêmio Sesc de literatura em 2014. Consigo seguir até quase a metade do livro. Explico; um jovem metido a coach ou sei lá o que, resolve que a área de leitura é seu novo escritório. Reclama como as obras no seu condomínio não o deixam trabalhar no décimo quinto andar do seu prédio fingindo que fala baixo com a mão tampando a boca.
Faz uma reunião online no seu notebook da Apple usando a a rede de internet pública discutindo se vídeos deveriam ter quatro ou cinco segundos para gerar mais engajamento no tik tok (parece que o Facebook flopou ou já é cringe, ainda estou estudando gírias que não conhecia).
Nadsat ou Novlíngua, o fantasma da Laranja Mecânica ri.
Um velho companheiro de arquibancada adentra ao recinto com sua camisa da torcida e o jornal debaixo do braço me cumprimentando com um aceno de cabeça.
"Vida de merda, mundo filho da puta." Leio o que diz sem voz.
Não chama a atenção dos seguranças enquanto aponta as manchetes na capa do diário.
Vi uma entrevista do Leminski dizendo que é difícil ser poeta depois dos trinta. Imagino ser hooligan e leitor crítico nas horas vagas.
Inteligência semi-artificial, café com barata, cerveja sem álcool, Halloween sem bruxa (virou festa da fantasia estranha, segundo o pastor diretor da escola é coisa de Satanás), indícios de vida extraterrestre e quem controla o VAR no Brasileirão.
Acho que vou ler os quadrinhos da Ilustrada.