Saudades da bola com alma
Sou um apaixonado por futebol. Muito apaixonado mesmo. E como sinto saudade daquele templo que chamava - e ainda chamo - de "era de ouro do futebol."
Sou sabedor das minhas limitações de conhecimento, sim, mas também não pratico falsa modéstia: entendo bastante.
Fico aqui, vez ou outra, pensando... como gostaria de ser um estudioso mais profundo do esporte bretão. Como gostaria.
O futebol me liberta. Libera minhas emoções, sentimentos, minha paixão - principalmente quando falo sobre ele com coerência e consistência. Ainda que, convenhamos, quando a paixão entra em campo, manter o equilíbrio não é nada fácil.
Como disse o filósofo - e tento seguir essa linha: " Não deixe a emoção governar sua inteligência." Nunca!
Mas voltemos ao tema que me encanta:
Que saudade de ver Pelé, Didi, Garrincha, Rivelino, Zico, Ademir da Guia... e, claro, tantos outros daquela época mágica.
Sinto saudade também, fora do Brasil, de Maradona, Beckenbauer, Cruyff, Bobby Charlton, Eusébio, Platini...
E, por mais enigmático que pareça, sinto falta até dos que não vi jogar: Giuseppe Meazza, Friendenreich, Leônidas, Zizinho, Di Stéfano, Puskas e tantos mais...
Mais recentemente, surgiram alguns que, também brilharam nos tapetes verdes - e foram excepcionais. Romário, Reinaldo, Careca, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho... Nossa! Falcão, Sócrates, Paulo César Caju, Edu, Carpegiani... Perdoem-me os que esqueci - a memória às vezes falha, mas o coração lembra.
Depois desse incipiente discurso - e talvez um tanto saudosista - me vejo diante de uma pergunta: Como é possível que, sendo sempre o ser humano que joga futebol, uma geração pareça tão inferior à outra?
Não sei. Ou talvez saiba.
Penso assim:
Admito o saudosismo, sim. Mas percebo também um decadência técnica individual evidente no futebol atual.
E aí surgem várias teses:
Será que o negócio superou o futebol? Talvez.
Será que a tecnologia atrapalhou ou limitou o talento? Talvez sim. Talvez não.
Será que a fisiologia e a medicina, por precaução, não permitem mais o treino técnico à exaustão? Quem sabe?
Ou será que, desde cedo, os meninos nas escolinhas são treinados para serem robôs físicos - e a técnica vira segundo plano? Talvez. Talvez não.
O fato é que, na formação de base, já se pensa no negócio, no produto final.
E aí vem a grande questão: como deixar o talento aflorar se ele não se enquadra nas exigências físicas e táticas do futebol moderno?
Como fazer dinheiro se o produto de hoje não pode mais ser como o produto dos anos de ouro?
Minha síntese é dura, mas honesta:
O futebol de hoje, com seu jogo físico, tático, sua medicina, sua tecnologia e suas limitações, tornou-se refém de um contexto em que clubes, empresários e formadores obedecem a uma só lógica - a do dinheiro.
O espetáculo já não basta. Vale o corporativismo. Vale a engrenagem . Vale o lucro.
E tem mais.
Nem falei ainda da política. Da lavagem de dinheiro.
Das apostas.
Do suposto envolvimento de jogadores e outros personagens com meios ilícitos.
Assuntos espinhosos, mas reais.
Como disse no início: que saudades daqueles artistas da bola. Não sou só saudosista. Sinto falta da arte pura.
E você, que é da minha geração? Sente falta também?
E você, que é da mais recente - ou atual - fique à vontade para discordar. Me ignore, se quiser. Mas, se ainda se diverte com os "craques" de hoje, fico feliz por você. De verdade.
O futebol é uma paixão. Só não podemos nos deixar cegar por ela e ignorar o que acontece em volta. Tudo bem pra você?
Divirta-se. Mas, por favor... não perca a sanidade.