ACADEMIAS... UM BEM OU UM MAL ?!
ACADEMIAS... UM BEM OU UM MAL ?!
Por quase 2 séculos vigorou no Brasil a idéia da existência de uma só Academia, englobando a vida literária -- mais do que cultural, que abrange diversos fazeres -- supostamente de um Estado inteiro. Ora, não estamos falando do Espírito Santo ou Piauí, do Acre e regiões semelhantes... quando o território é quase um "país-continente" como o Amazonas ou o Pará ou de Estado com 400, 500 ou 700 municípios, a presunção de que uma única Academia irá contemplar a presença de escritores em toda sua área oficial é um "conceito conveniente" (?!) aos elitistas e aos que pretendam ser um "Clube do Bolinha" literário. Nela, nem homens entram, se acaso nasceram e vivem em Anamã, Conceição do Mato Dentro ou São Domingos do Capim.
Se bem me lembro, demorou uns 50 ANOS para as mulheres adentrarem o sagrado recinto da Imortalidade, que foi e é a ABL - Academia Brasileira de Letras, voltada nos seus primeiros dias apenas aos literatos fluminenses e paulistas, um ou outro mineiro, se tanto.
Ninguém discute sobre a capacidade poética do "Patativa do Assaré" ou dos músicos "caipiras", porém como o critério número 1 para entrar no Silogeu maior sempre foi a correção gramatical, poetas desse (des)NÍVEL jamais entrarão nele. Me recordo agora de romance satírico -- ignoro o autor -- no qual renomado escritor perdeu a Cadeira de imortal porque esqueceu de bajular a filha "curta de massa cinzenta" de um "coronel das Letras" muito influente dentro da Academia, suponho que a de Machado de Assis, embora a "terra da garoa" já tivesse a sua, na época do lançamento da citada obra.
Essa tradicional "visita de cortesia" ainda se mantém, esdrúxula "romaria" dos candidatos à cadeira vaga, espécie de "beija-mão protocolar" no mínimo estranho. Me parece que cada Imortal deveria conhecer a obra literária dos pretendentes, afinal irão votar em 1 deles... ou a escolha é feita pela FIGURA do gajo, pelos elogios malandros que faça a cada Acadêmico ?! Eis onde entra uma Academia MUNICIPAL... e ela cumpre duas funções: mostrar-se ao Poder Público e aglutinar, REUNIR, apresentar à Cidade a "Inteligência" local, os seus defensores da Literatura, professores à parte. Sim, eu também concordo que o domínio da Língua-Mater seja uma exigência, porém não a ponto de EXCLUIR um "Patativa do Assaré", um repentista "de poucas letras", um músico matuto.
Concluindo: todo Município com mais de 10 mil almas deveria ter sua Academia de Letras E ARTES, já que se for conter somente escritores não encontrará nem meia dúzia. O conceito vigente de que todo Amador é um escritor "ruim" até atingir a Perfeição (?!) tolhe cada Autor -- como não há só 1 "Juiz", esta jamais será encontrada -- que oculta seus "rabiscos" como se ESCREVER fosse um crime.
Já artesãos, escultores, fotógrafos e pintores querem SER VISTOS, admirados, mostrar suas obras, divulgá-las. Não é à toa que as definimos como Artes VISUAIS ! Mas a Literatura é também arte VISUAL, exceto quando "escrita" em Braille (ou gravada em Audiobooks). Em suma, não há mal algum em fundar nas pequenas cidades uma Academia, desde que esta não se apequene e trate suas reuniões CULTURAIS como meros encontros dos "Society" local para envaidecer "figurinhas". Longa Vida às Academias... EVOÉ !!!
"NATO" AZEVEDO (em 31/dez. 2024, 4,30hs)