Minha primeira crònica

Um dos textos mais bonitos, simples e tocantes, que já li, foi "A última crônica", de Fernando Sabino. Devo confessar que já o li mais de 20 vezes, e toda vez que leio-o choro e sinto vontade de escrever uma crônica que demonstre um sentimento tão puro e singelo quanto o descrito na crônica dele.

Lembro-me, então, do primeiro momento, da minha vida, em que senti algo assim. Desde muito nova, quando passava em frente a Universidade Federal de Campina Grande, imaginava-me estudando lá e passei a dedicar-me aos estudos para que pudesse , um dia, realizar esse sonho.

Chegou o último dia da inscrição no vestibular dessa instituição, e por incrível que pareça, eu não tinha os R$ 20 para pagar taxa. No final da tarde, perdi as esperanças e me tranquei no quarto . Havia uma tristeza imensa em mim. Entretanto, do meu quarto, ouço a voz do meu tio Saladino (tio Diro), mesmo assim, não saio do quarto para vê-lo, para que ele não me visse chorando.

Mas, atencioso como sempre, ele foi a minha procura e quando abri a porta, percebeu que eu estava chorando e me perguntou o que havia acontecido e eu, envergonhada, contei.

Nunca imaginei que Deus tinha escolhido ele para, naquele momento, ser meu anjo da guarda!

Como não poderia ser diferente, por ser tio Diro alguém tão solícito, que não poupava esforços para ajudar, servir e ser útil, rapidamente, deixou tudo que tinha para fazer, me colocou no carro e me levou aos Correios para que eu fizesse minha inscrição.

Estudei bastante, passei no vestibular e fui correndo agradecê-lo, Eu o abracei e disse: - Eu passei! Muito obrigada por ter me ajudado. E ele só falou: - Você lembrou?

Como poderia esquecer um gesto tão simples, e ao mesmo tempo, tão grandioso?! Foram os R$ 20 mais importantes da minha vida. Não pelo valor monetário, mas pela grandiosidade do gesto, que mudou minha vida. Desde então, toda vez que conquisto algo, lembro que tudo começou ali.

Pena que em setembro do mesmo ano, meu tio partiu para a eternidade e deixou um grande vazio, entretanto, deixou também grandes ensinamentos e boas lembranças. Por isso, esta crônica é dedicada a ele, pois assim como Fernando Sabino, eu quereria que fosse minha primeira crônica, puro, verdadeira e cheia de amor, como esse gesto, digno de alguém tão generoso como meu tio Saladino Moura Santos.