O CORPO DA DOR (CRÔNICA POÉTICA)

Existe um conceito para a dor?

Uma razão para ela existir?

Às vezes penso que a dor é escolha — ou talvez um masoquismo de almas vazias. Outras vezes, acredito que ela apenas vem, sem ser chamada, e se senta no canto da sala como visita que não sabe a hora de ir embora.

Ela é temporal? Passa?

Ou fica alojada na memória como um minuto que se estica para o infinito?

A dor aparece em qualquer lugar — no corpo, na alma, nas lembranças.

E, nas lembranças, dói mais de uma vez. Como se revivê-la fosse uma forma de confirmá-la.

Qual dor é maior? A minha? A sua? A de um terceiro que nem conhecemos?

Não dá pra medir. Dor não tem escala. Cada um sente como pode — ou como aguenta.

Dizem que ela educa.

Que o sofrimento é caminho de elevação.

Algumas religiões a colocam em altar.

Mas será mesmo? Ou aprendemos a sofrer em silêncio porque ninguém quer ouvir a dor do outro?

Você já olhou nos olhos de quem sofre?

Já viu o abismo calmo que mora ali dentro?

Eu aceito a dor.

Mas não deixo de questioná-la.

Talvez seja isso que nos salva: não negar o sentir, mas pensar sobre ele.

Dar nome.

Dar voz.

Dar tempo.

E, quem sabe, um dia, dar um adeus!

Tião Neiva

TIÃO NEIVA
Enviado por TIÃO NEIVA em 17/04/2025
Reeditado em 17/04/2025
Código do texto: T8311766
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