O CORPO DA DOR (CRÔNICA POÉTICA)
Existe um conceito para a dor?
Uma razão para ela existir?
Às vezes penso que a dor é escolha — ou talvez um masoquismo de almas vazias. Outras vezes, acredito que ela apenas vem, sem ser chamada, e se senta no canto da sala como visita que não sabe a hora de ir embora.
Ela é temporal? Passa?
Ou fica alojada na memória como um minuto que se estica para o infinito?
A dor aparece em qualquer lugar — no corpo, na alma, nas lembranças.
E, nas lembranças, dói mais de uma vez. Como se revivê-la fosse uma forma de confirmá-la.
Qual dor é maior? A minha? A sua? A de um terceiro que nem conhecemos?
Não dá pra medir. Dor não tem escala. Cada um sente como pode — ou como aguenta.
Dizem que ela educa.
Que o sofrimento é caminho de elevação.
Algumas religiões a colocam em altar.
Mas será mesmo? Ou aprendemos a sofrer em silêncio porque ninguém quer ouvir a dor do outro?
Você já olhou nos olhos de quem sofre?
Já viu o abismo calmo que mora ali dentro?
Eu aceito a dor.
Mas não deixo de questioná-la.
Talvez seja isso que nos salva: não negar o sentir, mas pensar sobre ele.
Dar nome.
Dar voz.
Dar tempo.
E, quem sabe, um dia, dar um adeus!
Tião Neiva