A Vela e a Beleza do Ordinário

A vela nunca foi um objeto de desejo. Não está no topo das listas de presentes, não é um item de luxo e, sinceramente, dificilmente notamos diferença entre uma marca e outra. Até aceito que algumas queimem de forma mais suave, sem escorrer parafina pelo lado, mas no fim, pouco importa. Pegamos a mais barata e seguimos. Vulgar, esquecível — e ainda assim, todo mundo tem uma em casa.

Ela não promete muito: um fiapo de luz, um respiro de calor. Na escuridão total, até faz diferença, mas na era dos smartphones, quem precisa dela? O fósforo, ao menos, inicia o fogo; a vela só o mantém. Não inova, não se multiplica, não impressiona. Apenas existe, quieta, à disposição de quem precise de um pouco de claridade.

E talvez aí esteja sua grandeza. Num mundo que exige sermos a melhor versão de nós mesmos, empreendedores de nossa própria vida, a vela lembra que há valor no simples, no que cumpre sua função sem alarde. Quantas pessoas são assim? Discretas, úteis na medida do possível, oferecendo o pouco que têm — um conselho, um ombro, uma presença — sem esperar aplausos.

A vela se consome. É o preço de sua existência: para iluminar, precisa se desfazer. E me pergunto se vale a pena. Afinal, queimar-se por outros que nem sequer a notam parece um desperdício. Mas então penso: se a vela não queimar, para que serve? Sua essência é o fogo. E há beleza nisso — em ser apenas o que se é, enquanto dura.

No fim, as melhores luzes não são as mais brilhantes, mas as que nos alcançam na escuridão.

Adriel M
Enviado por Adriel M em 17/04/2025
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